Por Silvio Cascione
BRASÍLIA (Reuters) - A forte contração econômica do Brasil deve acabar no fim deste ano, mas a economia não conseguirá voltar ao nível pré-recessão antes de 2019, segundo pesquisa da Reuters publicada nesta segunda-feira.
Com as perspectivas de recuperação bastante frágil, o desemprego deve continuar alto por vários anos e a escalada da dívida exigirá da presidente Dilma Rousseff e seus sucessores ainda mais austeridade para estabilizar as contas do país.
O superávit primário --economia feita para pagamento de juros da dívida-- necessário para estabilizar a dívida brasileira já aumentou para 2,8 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), segundo a mediana das projeções de economistas na pesquisa, sobre 2,0 por cento nas contas do governo ano passado. Atualmente, em 12 meses, o país tem déficit primário de 1,75 por cento do PIB.
"Acabou aquele modelo de crescimento baseado na expansão do crédito ao consumo. E há a necessidade de gerar superávit fiscal elevado", disse o economista do BBVA (MC:BBVA), Enestor dos Santos. "O risco é que a gente tenha uma situação de crise fiscal mais forte, de crise de dívida."
A crise econômica tem sido um choque de realidade para o Brasil após anos de forte crescimento econômico. Mesmo com os vastos recursos naturais e um dos maiores mercados consumidores do mundo, o Brasil, um dos países mais desiguais do mundo, voltou a ser considerado um lugar de alto risco para investimentos e vê a ameaça do velho fantasma da inflação.
O legado da pior recessão em mais de um século no Brasil deve manter instável o fragmentado sistema político do país, sugerem os resultados da pesquisa, como se o país estivesse apenas voltando ao seu normal após um breve período de forte expansão liderada pela China.
VOLTA TÍMIDA
A economia brasileira, em queda livre desde o começo de 2015, provavelmente vai voltar a crescer no último trimestre deste ano, segundo a mediana das projeções de 15 economistas. A recuperação será apenas modesta, porém, com o PIB retornando ao seu tamanho de antes da recessão, em 2014, somente em 2019.
O baixo crescimento, junto com os altos juros, aumenta o custo da dívida do país. A dívida bruta, atualmente em 67 por cento do PIB, deve superar 80 por cento nos próximos anos, segundo a pesquisa. Ela pode estabilizar entre 2018 e 2022, mas para isso o Brasil precisa superar as expectativas de economistas e aprovar medidas no Congresso que diminuam o crescimento dos gastos e aumentem a receita com impostos.
Por enquanto, a maioria dos economistas na pesquisa espera apenas duas medidas neste ano: o fim da obrigatoriedade da participação da Petrobras (SA:PETR4) nos campos do pré-sal e a renegociação da dívida dos Estados com a União. Apenas um acredita na aprovação da idade mínima para aposentadoria e na volta da CPMF, e cerca de metade aposta na aprovação de limites automáticos para os gastos federais.
Mesmo que o Brasil consiga ajustar as contas, a dívida alta e a austeridade necessária para mantê-la sob controle devem limitar o crescimento do PIB, segundo economistas. O desemprego deve subir até 12 por cento, segundo a mediana das estimativas, sobre 9 por cento atualmente.
O PIB do Brasil provavelmente recuou 3,8 por cento em 2015, segundo a pesquisa, e deve cair mais 3,45 por cento em 2016, segundo o levantamento semanal do Banco Central com instituições financeiras via pesquisa Focus. As três principais agências de risco tiraram o Brasil do grau de investimento nos últimos meses e mantêm perspectiva negativa para a nota do país, indicando a possibilidade de mais rebaixamentos.