WASHINGTON (Reuters) - O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, expressou preocupação neste sábado com a independência do Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, alertando que uma perda de autonomia poderá prejudicar a credibilidade das políticas da instituição.
A nomeação pelo presidente dos EUA, Donald Trump, de dois candidatos polêmicos para o conselho do Fed e as persistentes demandas por cortes nos juros têm aumentado o nível de interferência do governo, desafiando um dos principais dogmas na gestão moderna de bancos centrais.
“Estou certamente preocupado com a independência do banco central em outros países, especialmente... na mais importante jurisdição no mundo”, disse Draghi em referência aos EUA.
"Se o banco central não é independente, então as pessoas começam a pensar que as decisões de política monetária seguem aconselhamentos políticos em vez de avaliações objetivas sobre o cenário econômico”, disse ele em uma entrevista coletiva.
Governos de países que vão da Turquia à Índia, passando pelos EUA, têm aumentado a pressão sobre seus bancos centrais nos últimos meses, intensificando o debate sobre a importância da independência.
Alguns argumentam, porém, que as políticas heterodoxas, hoje amplamente utilizadas, redistribuem riqueza, motivo pelo qual as decisões monetárias são cada vez mais políticas e, desse modo, exigem maior escrutínio político.
“Dentro (de seu) mandato, no entanto, os bancos centrais devem ficar livres para escolher qual o melhor caminho para cumprir seu mandato”, disse Draghi. “Porque se você não deixá-los livres, então não podem ser responsabilizados. Esse é o referencial de trabalho para bancos centrais desde os anos 1980 em toda parte”.
Ainda assim, Draghi argumentou que não via ameaça semelhante à independência do BCE, dadas as garantias legais, e também não achava que casos de interferência em outros lugares minassem a confiança global.
(Por Balazs Koranyi)