(Reuters) - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira cortar a taxa básica Selic em 0,5 ponto percentual, para 12,25% ao ano, e afirmou que prevê reduções no mesmo ritmo nas próximas reuniões.
Veja abaixo comentários de especialistas sobre a decisão do Copom.
JOÃO SAVIGNON, HEAD DE PESQUISA MACROECONÔMICA DA KÍNITRO CAPITAL:
"O comunicado veio em linha com as nossas expectativas e pode ser recebido pelo mercado como dovish (suave), na medida em que havia uma possibilidade de o BC sinalizar a manutenção do ritmo de corte apenas na próxima reunião.
O único elemento que pode ser considerado um sinal mais duro (hawkish) foi a preocupação com a conjuntura internacional, que na avaliação do Copom está mais adversa. Mas em nossa visão, como a taxa de câmbio tem se comportado de forma relativamente benigna, isso não traz implicações imediatas sobre a condução da política monetária doméstica."
ANDREA DAMICO, ECONOMISTA-CHEFE DA ARMOR CAPITAL:
"Ele usa a palavra 'cautela' duas vezes nesse comunicado sempre fazendo referência ao cenário externo. Sobre a questão fiscal, ele tentou reforçar, mas de uma forma muito sutil, praticamente mudando uma palavra só. Eu acho que (o tema) vai pesar sim, até mais do que o cenário externo, na minha visão, mas o Copom, até mesmo porque não tem nenhuma decisão tomada, preferiu, não se pronunciar muito a respeito disso. Eu acho que talvez na ata venha algo mais explícito em relação a como o risco fiscal pode afetar a condução da política monetária. Mas o comunicado queria passar um tom talvez mais duro e acabou fazendo isso, mas usando o cenário externo, que de fato piorou bem mesmo."
LAURA MORAES, ECONOMISTA, NEO INVESTIMENTOS:
"Dado o que aconteceu com a curva de juros americana e com o fiscal aqui no Brasil, um dos principais pontos de atenção em relação ao comunicado era o balanço de riscos, uma vez que, traz luz sobre a visão do comitê sobre a evolução desses dois riscos. Nesse sentido, o comunicado não alterou o balanço de riscos, mantendo-o simétrico. No entanto, nota-se a ênfase na incerteza advinda do cenário internacional."
PAULO GALA, ECONOMISTA-CHEFE DO BANCO MASTER:
"Não fazia sentido acelerar o ritmo para 0,75, até porque as expectativas estão desancoradas para o ano que vem e para 2025. Além disso há uma deterioração fiscal nova no horizonte, com dúvidas sobre o cumprimento da meta fiscal no ano que vem, e um cenário mais conturbado lá fora, com o conflito no Oriente Médio, com as Treasuries de 10 anos indo a 5% e as dúvidas em relação à política monetária americana. Por outro lado, desacelerar para 0,25 não faria sentido, dado que a inflação está convergindo. Inflação este ano deve ficar abaixo do teto da meta. Então o juro real brasileiro não precisa ficar tanto acima do neutro para garantir essa convergência. A decisão foi acertada."
LEONARDO COSTA, ECONOMISTA DA ASA INVESTMENTS:
"Dos três pontos do balanço de riscos que apontávamos como importantes, dois vieram em linha com a nossa expectativa. O Copom comentou mais detidamente sobre a piora do cenário externo, com elevação da curva longa nos Estados Unidos e com a escalada do conflito no Oriente Médio. Com dados mais fracos na margem, o BC passa a ver o ritmo da atividade doméstica como consistente com a desaceleração esperada. O Copom não celebrou os dados correntes de inflação, que vieram mais baixos no núcleos, especialmente nos serviços -- o que pode ser lido como mais hawk."
DANIEL CUNHA, ESTRATEGISTA-CHEFE, BGC LIQUIDEZ:
"No comunicado, o comitê endureceu o tom ao atualizar o balanço de riscos que absorveu maior incerteza advinda do cenário externo.
Quanto aos desdobramentos domésticos, o Copom sinalizou que estes (atividade + inflação) estão se desenrolando em linha com o esperado...
"Apesar de antecipar os próximos passos de 50bps, parece haver menor visibildiade/confiança quanto a extensão total do ciclo."
(Redação Reuters)