Investing.com - O Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a Selic em 0,5 ponto porcentual, indo a 12,75% ao ano, de acordo com a divulgação da instituição nesta quarta-feira (20). Com isso, o órgão do Banco Central mantém ciclo de cortes na taxa básica de juros, que foi iniciado na última decisão de agosto.
A última vez que a taxa havia estado nesse nível foi em maio do ano passado, quando o BC ainda estava levando adiante o ciclo de aperto monetário da economia. A decisão, que foi unânime, veio em linha com o esperado pelos analistas entrevistados pelo Investing.com.
Neste comunicado, as autoridades do BC destacaram as metas fiscais. "Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas", pontuam.
"Notamos o acréscimo que demonstra a atenção do Banco Central com a questão fiscal, quando os membros reforçam a necessidade de firme persecução das metas de resultado primário, num momento em que a eventual mudança da meta para 2024 ronda o governo. Embora a questão fiscal já não seja citada como um risco em si para a inflação, o ônus reputacional de uma mudança prematura da meta (e possível efeito sobre expectativas) importa muito", avalia Maykon Douglas, economista da Highpar, que manteve a expectaiva de manuteção dos cortes de 50 bps nas duas próximas reuniões.
Para Rodrigo Cohen, analista de investimentos, tudo vai depender do que vai acontecer daqui para frente em relação a inflação. "Acredito que o maior receio fica muito mais até o final desse ano porque o cenário externo está muito mais incerto em relação a inflação lá fora que ainda não foi controlada, principalmente nos Estados Unidos, com um FOMC mais hawkish, mesmo mantendo os juros inalterados. A China vem mostrando uma desaceleração também. O Copom comentou também que o Brasil pode desacelerar daqui para frente e isso deve fazer com que eles mantenham as quedas de forma similar nas próximas reuniões.", completa.
Por sua vez, Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, comunicado elimina essa possibilidade de qualquer queda de 0,75 p.p."Ele ressalta ainda que há muita incerteza com relação ao mercado externo, preocupação com relação a resiliência da atividade aqui no Brasil que pode gerar pressões inflacionárias. O comunicado ressalta ainda que tem que é necessário ter serenidade e moderação com relação ao processo de flexibilização monetária, ou seja, indicando que o comitê vai ser cauteloso com relação a esse ritmo de corte da taxa de juros", reforçou.
Veja abaixo a íntegra do comunicado
O ambiente externo mostra-se mais incerto, com a continuidade do processo de desinflação, a despeito de núcleos de inflação ainda elevados e resiliência nos mercados de trabalho de diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas. O Comitê notou a elevação das taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos e a perspectiva de menor crescimento na China, ambos exigindo maior atenção por parte de países emergentes.
Em relação ao cenário doméstico, observou-se maior resiliência da atividade econômica do que anteriormente esperado, mas o Copom segue antecipando um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres. Como antecipado, ocorreu uma elevação da inflação cheia ao consumidor acumulada em doze meses no período recente. As medidas mais recentes de inflação subjacente apresentaram queda, mas ainda se situam acima da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023, 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,9%, 3,9% e 3,5%, respectivamente.
As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 5,0% em 2023, 3,5% em 2024 e 3,1% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 10,5% em 2023, 4,5% em 2024 e 3,6% em 2025.
O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas.
Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 12,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em grau menor, o de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação com reancoragem parcial, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário. O Comitê ressalta ainda que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Gabriel Muricca Galípolo, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes.
* No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 4,90, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária "verde" em dezembro de 2023, de 2024 e de 2025. O valor para o câmbio é obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.