Por Ana Carolina Siedschlag
Investing.com - A liquidez abundante nos mercados internacionais, a negociação das reformas, o risco fiscal e a inflação em alta serão alguns dos temas relevantes que devem prevalecer nas tomadas de decisões de investidores e administradores públicos em 2021, disseram Caio Megale, Richard Back e Fernando Ferreira, respectivamente economista-chefe, analista político e estrategista-chefe da XP Investimentos.
Segundo Megale, em coletiva para jornalistas sobre as perspectivas da corretora para o próximo ano, com o fim do auxílio emergencial e de outros benefícios fiscais gerados durante a pandemia, o Banco Central deve acabar assumindo o protagonismo no cenário de recuperação.
“O fiscal vai ter que sair de cena, enquanto a política monetária vai observar um pouco mais porque tem espaço para isso”, afirmou. Para a XP, a Selic deve chegar a 3% no final de 2021, com o início do ciclo de alta a partir do segundo semestre - mesmo se a inflação corrente ultrapassar o teto da meta de 3,75% para o próximo ano.
“A inflação pode chegar até 6% e o BC vai ter que ter sangue frio para manter a política e ser habilidoso na comunicação”, disse Megale, apontando que, historicamente, a inflação projetada anda lado a lado com a inflação corrente, o que não deve acontecer no próximo ano apenas temporariamente.
Cenário político
Para Back, analista político da corretora, o risco mais evidente para o cenário do país é a parte fiscal.
Ele aponta que os nomes mais cotados para a presidência da Câmara, como Arthur Lira, e para a do Senado, como Eduardo Braga e Antonio Anastasia, têm posições majoritariamente a favor das reformas propostas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e que isso deve ser positivo para o andamento delas em 2021.
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“Não vamos nos iludir achando que serão propostas muito grandes, mas garantem que o país não entre em crise”, disse, apontando que haverá a oportunidade de governo e Congresso se acertarem para a aprovação das reformas que podem inclusive abrir espaço no Orçamento para a formulação de um novo programa social.
“Liberado espaço no teto para 2022, poderemos ver a criação de um novo programa social. Até lá, qualquer coisa com guinada populista tem resistência no mercado, o que leva o teto a ficar em pé por W.O.”, aponta.
Estratégias
Para Ferreira, o cenário externo rico em estímulos no pós-pandemia deve continuar a beneficiar commodities e, consequentemente, emergentes como o Brasil.
“Em 2020, foram injetados US$ 20 trilhões em estímulos, mais de 23% do PIB global. Mais de 20% de toda a base monetária dos EUA foi emitida em 2020. Tem muita liquidez no mercado e está claro que esses estímulos não vão parar por aqui”, aponta, citando as negociações para o novo pacote de ajuda americano que pode chegar até antes da posse do presidente Joe Biden.
A expectativa da XP é que a bolsa brasileira chegue a 130 mil pontos no final de 2021, ajudada também por um cenário global menos turbulento e por uma política americana menos tumultuada.