Por Eduardo Baptista e Lisandra Paraguassu
RIO DE JANEIRO/BRASÍLIA (Reuters) - Em suas primeiras reuniões globais desde que Donald Trump foi reeleito para a Presidência dos Estados Unidos, o presidente chinês, Xi Jinping, partiu para uma ofensiva diplomática, protegendo-se contra a possibilidade de novas tarifas e se preparando para explorar possíveis divergências entre Washington e aliados.
Reunião após reunião, da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec, na sigla em inglês) no Peru ao G20 no Brasil ao longo da última semana, Xi procurou estabelecer um contraste com a mensagem "America First" (EUA em primeiro lugar) de Trump. Ele se apresentou como um defensor previsível da ordem comercial multilateral.
Organizadores das cúpulas, diplomatas e negociadores também descrevem uma mudança perceptível em relação às reuniões anteriores, com uma postura mais construtiva por parte dos diplomatas chineses. Eles estavam menos focados em seus interesses restritos e mais envolvidos na construção de um consenso mais amplo.
Estender a mão é urgente para Pequim. Embora esteja mais bem preparada para outra Casa Branca de Trump -- com muitas empresas de tecnologia muito menos dependentes das importações dos EUA --, a China também está mais vulnerável após sua economia ser atingida por uma enorme crise imobiliária.
Grande parte da atenção da China se concentrou no Sul Global, com a agência de notícias estatal Xinhua elogiando o G20 por incluir a União Africana como um dos membros. A voz do Sul Global precisava ser "não apenas ouvida, mas também traduzida em influência tangível", disse a Xinhua.
Durante seu discurso no G20, na última segunda-feira, Xi reiterou a posição da China de "abrir unilateralmente nossas portas para os países menos desenvolvidos", destacando a iniciativa da China de conceder a todos esses países "tratamento tarifário zero para linhas tarifárias de 100%".
Ao fazer tais aberturas, a China quer expandir sua posição de liderança em partes do mundo em desenvolvimento onde os EUA há muito tempo estão atrasados devido à incapacidade de igualar os investimentos de bilhões de dólares que a economia estatal da China tem organizado.
"Para posicionar a China como defensora da globalização e crítica do protecionismo, essa mensagem calculada chega em um momento em que muitos países do Sul Global temem o possível retorno de políticas comerciais e tarifárias indiscriminadas por parte dos EUA, especialmente sob a influência de Trump", disse Sunny Cheung, membro associado de Estudos sobre a China da Jamestown Foundation, um think tank com sede em Washington DC.
"Os comentários de Xi visam apresentar a China como um parceiro mais estável e sensato e, o mais importante, recíproco, em contraste com o que percebem como imprevisibilidade dos EUA."
TOM CONCILIATÓRIO
Trump prometeu impor tarifas sobre importações chinesas superiores a 60%, e uma pesquisa da Reuters com economistas revelou que eles esperam que os EUA imponham tarifas de quase 40%, o que poderia reduzir o crescimento da segunda maior economia do mundo em até 1 ponto percentual.
Ex-diplomatas chineses reconhecem em conversas privadas que os países em desenvolvimento não compensarão essa perda, mas Xi tem apostado muito na expansão do Brics e na aproximação com os vizinhos asiáticos, da Índia ao Japão e à Austrália.
Os países europeus, também ameaçados por Trump com tarifas, procuraram adotar um tom conciliatório com Xi na última rodada de reuniões.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, disse que Berlim trabalharia por uma solução mediada para uma disputa entre a UE e a China sobre veículos elétricos chineses o mais rapidamente possível, durante sua reunião com Xi.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, adotou um tom otimista na primeira reunião entre líderes dos países desde 2018, dizendo que gostaria de se envolver com Pequim em áreas como comércio, economia e clima, além de ter um envolvimento mais amplo em ciência, tecnologia, saúde e educação.
(Reportagem adicional da redação de Pequim, Larissa Liao e Antoni Slodkowski)