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CMN decide meta de inflação para 2021 em ambiente marcado por incertezas

Publicado 26.06.2018, 09:12
© Reuters.  CMN decide meta de inflação para 2021 em ambiente marcado por incertezas
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Investing.com - O Conselho Monetário Nacional (CMN) realiza na tarde desta terça-feira (26) reunião que irá definir a meta da inflação para o país para 2021. A expectativa do mercado é que o alvo seja estabelecido em 3,75%, mantendo assim a trajetória de redução de 0,25 ponto percentual a cada ano.

O que era um cenário dado como certo de que o conselho faria essa redução – inclusive com apostas em um corte ainda mais ousado – passou a ser um ponto de dúvida com os recentes reveses da política e economia.

O pessimismo trazido pela greve dos caminhoneiros em meio à disparada do dólar com a reversão do clima positivo no ambiente internacional com a aceleração do ritmo de alta de juros nos EUA e o fim dos estímulos na Europa relembraram os desafios estruturais que o Brasil segue adiando e que inviabilizam uma economia de juros e inflação baixos.

O Santander (SA:SANB11), que acreditava no início de maio que “este pode ser o momento perfeito para dar um passo mais ousado” na direção da redução da meta para o patamar de 3%, reduziu suas apostas em junho.

“Acreditamos que as condições atuais de turbulência no mercado não deixam o CMN confortável para um movimento mais ousado, mas ainda assim o Conselho deve anunciar uma meta de 3,75% em 2021”

Entre os principais desafios para essa redução da meta estão o adiamento das medidas que controlariam o gasto público. O governo Michel Temer não conseguiu aprovar a muito aguardada reforma da Previdência e se limitou a transferir o problema para o próximo presidente eleito em outubro com o limite do teto de gastos pressionando por uma solução rápida.

Entre os que defendem a manutenção da meta de 4% em 2021 está Rafael Leão, economista-chefe da Parallaxis. Para ele, os projetos estruturantes devem ser aprovados antes de se propor atingir metas de inflação mais rigorosa. “Ficaremos ou muito constrangidos por um juro que precisará ser elevado para cumprir a nova meta, ou corremos o risco de não cumprir a meta.

A economista da Coface para América Latina, Patricia Krause, faz coro à necessidade de controle das contas públicas antes da redução da meta, pois isso permitiria a redução do prêmio de risco do país, ajudando na trajetória da inflação.

“Devido ao tamanho grau de incerteza atual, com cenário eleitoral em aberto, falta de visibilidade em relação às reformas e maior volatilidade cambial por conta de um cenário externo mais adverso, eu não acredito no anúncio de mudança na meta”, disse a economista.

A preocupação também aflige o presidente do BC, Ilan Goldfajn, participante do CMN, junto ao ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, e o do Planjeamento, Esteves Colnago. Em abril, Ilan disse durante palestra em Nova York, para ele, o Brasil não tem condições de ter juros e inflação baixa se as reformas não continuarem, destacando que a questão da Previdência seria a mais importante.

Pacote impopular para o novo governo

Além das reformas, Leão cita ainda a lei de reajuste automático do salário mínimo como um sinal de que a economia brasileira segue muito indexada e incompatível com metas de inflação mais baixas.

“Historicamente não conseguimos consolidar nem a média abaixo de 4,5% a 4,0% a.a.. É preciso garantir que os salários cresçam abaixo da produtividade da economia durante um tempo, antes de tomar tal decisão”, explica Leão.

Esse será mais um tema espinhoso – e duramente impopular – que será enfrentado pelo próximo governo eleito já no primeiro ano de mandato. A fórmula de aumento automática que soma o resultado do PIB de dois anos à inflação pelo INPC medida no ano anterior foi aprovada em 2012 e renovada três anos mais tarde até 2019.

Em busca da convergência internacional

Há um ano, o CMN realizou a redução do objetivo a ser perseguido pelo Banco Central ao fixar a meta para 2019 em 4,25% e para 2020 em 4%. A redução sinalizou o fim da manutenção da meta de 4,5%, em vigor desde 2003. Naquele ano, o intervalo de tolerância foi definido com 2,5 pontos. Em 2006, esse intervalo caiu para 2 pontos e permaneceu assim nos anos seguintes até ser reduzido para 1,5 ponto para 2017 e 2018.

Na época, o então ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, explicou que “a finalidade da extensão desse prazo é exatamente porque estamos gradualmente iniciando um processo de convergência para padrões internacionais”

A política de meta de inflação é adota por pelo menos 67 países. Na China, por exemplo, o alvo é em cerca de 3,0% ao ano, enquanto que na Índia é de 4,0%, com intervalo de tolerância de 2,0 ponto percentual. Já nos EUA a meta é de 2%, mesmo patamar da zona do euro.

Entre nossos vizinhos, a meta da Argentina era de 12% a 17%, com o novo patamar previsto para ser definido em julho. No Chile e na Colômbia, o centro do alvo é de 3,00% ao ano, com variação tolerada de 1,0 ponto percentual. No Peru, o patamar é o mesmo de EUA e zona do euro, só que com uma variação permitida de 1,0 ponto percentual.

Desde que o sistema de metas de inflação foi adotado no país, o resultado efetivo ficou fora o limite de variação em cinco oportunidades, em 2001, 2002, 2003 e 2015, quando superaram a o teto da meta e em 2016, quando ficou abaixo do piso da meta.

Apostas se mantém em corte para 3,75%

Em abril, o Globo disse que o conselho já teria decidido fixar a meta de inflação de 2021 em 3,75%, por conta da inflação mais baixa, com manutenção da margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Na época, os membros do conselho negaram a informação e disseram que qualquer definição seria realizada somente em junho.

Apesar das mais recentes apostas contrárias, a maioria dos analistas ainda acredita na redução da meta para 2021 e uma mudança nessa trajetória teria um forte impacto no mercado, pois sinalizaria que o CMN perdeu a confiança na política e economia.

O impacto seria sentido tanto no humor do mercado financeiro, mas especialmente na curva de juros para além de 2020. A reação deverá ser de um aumento nos juros DI e uma revisão na projeção de inflação de longo prazo do mercado, que entenderia o recado do CMN de que o país não perseguirá metas mais baixas enquanto as incertezas não forem vencidas.

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