Por Andy Sullivan
WASHINGTON (Reuters) - O republicano Donald Trump fez campanha prometendo sacudir Washington, e como presidente o excêntrico magnata do setor imobiliário estará em condição de mudar dramaticamente como os Estados Unidos lidam com a imigração, o comércio e uma série de outras políticas.
Mesmo assim, muitas de suas propostas mais ambiciosas irão exigir cooperação do Congresso. Embora Trump vá desfrutar de uma lua de mel pós-eleição com os congressistas de seu partido, um romance duradouro está longe de garantido, dada sua relação instável com líderes parlamentares e algumas diferenças ideológicas básicas que tem com a ortodoxia republicana.
A seguir, veja um panorama dos principais planos de políticas de Trump, com base em detalhes às vezes vagos de sua agenda, e sua chance de sucesso.
COMÉRCIO
Durante a campanha, Trump argumentou que os acordos comerciais internacionais prejudicaram os trabalhadores norte-americanos e a competitividade do país. Ele prometeu "endurecer" com a China, retirar os EUA da Parceria Transpacífica (TPP), que ainda não foi finalizada, e renegociar o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta) entre México, EUA e Canadá, em vigor desde 1994.
Como presidente, Trump de fato terá algum poder para elevar tarifas sobre nações como a China e pode atrasar o TPP, mesmo se o Congresso o aprovar o acordo. Economistas vêm alertando que tais medidas prejudicariam a economia ao obrigar os consumidores a pagar preços mais altos em tudo, de geladeiras a camisetas.
IMIGRAÇÃO
O Trump candidato prometeu construir um muro na fronteira com o México, deportar milhões de imigrantes sem documentos e proibir a imigração de países que foram "comprometidos pelo terrorismo".
Essas políticas não seriam baratas. Trump estimou que o muro custaria entre 8 e 12 bilhões de dólares, e outros levantamentos apontam valores muito maiores.
O site Politico estimou que custaria ao menos 166 bilhões de dólares deportar todos os residentes ilegais do país e erguer o muro fronteiriço. Embora muitos congressistas republicanos apóiem essas políticas, podem recuar diante da conta.
Trump já disse que irá forçar o México a pagar pela obra, mas não tem poder para obrigar outra nação a gastar dinheiro em algo que não quer.
SAÚDE PÚBLICA
O novo mandatário se comprometeu a descartar o plano de saúde pública do presidente dos EUA, Barack Obama, conhecido popularmente como Obamacare, e substituí-lo por outro que daria aos Estados um controle maior sobre o Medicaid, plano para usuários de baixa renda, e permitiria que as seguradoras vendessem seus planos nacionalmente.
Trump irá precisar que o Congresso se manifeste, e os republicanos podem ter dificuldade para conseguir os 60 votos necessários para levar adiante uma tentativa de revogação do Obamacare no Senado de 100 cadeiras e ainda enfrentar uma reação pública se revogarem uma lei que proporcionou planos de saúde a milhões de cidadãos.
IMPOSTOS E GASTOS
Trump prometeu fazer cortes de impostos profundos e ao mesmo tempo proteger programas de saúde e de aposentadoria populares que representam mais de um terço dos gastos do governo norte-americano.
Essa combinação de políticas aumentaria e muito a dívida nacional, de acordo com a entidade apartidária Center for a Responsible Budget. Ele também propôs aumentar os investimentos nas Forças Armadas e na infraestrutura, mas disse que irá reduzir em 1 por cento ao ano os gastos em categorias que não sejam saúde e aposentadoria.
No tocante aos impostos, ele terá ajuda de sobra dos republicanos no Congresso, onde estes vêm preparando o terreno para uma reforma tributária que diminuiria taxas e fecharia brechas.
REGULAMENTAÇÃO DE WALL STREET
Trump prometeu "desfazer" a lei de reforma financeira Dodd-Frank de 2010, adotada após a crise desencadeada em 2008, mas deu poucos detalhes.
A plataforma do Partido Republicano pede a volta da Glass-Steagall, lei dos anos 1930 que obrigava a separação dos bancos de investimento de instituições que tomam depósitos. Em julho, o ex-gerente de campanha do novo presidente, Paul Manafort, disse que o campo de Trump apoia a alteração.
Até agora os parlamentares republicanos não conseguiram desfazer muitos dos artigos mais desprezados da lei Dodd-Frank, e muitos membros do partido se opõem a uma retomada da Glass-Steagall.
ESTADO ISLÂMICO
Trump deu poucos detalhes sobre seus planos para combater o Estado Islâmico, mas afirmou que irá "arrasar" o grupo militante. Ele diz estar mantendo os detalhes de sua estratégia em segredo para não revelá-los ao inimigo. O empresário havia dito que, se vencesse a eleição, daria 30 dias para os generais proporem seus próprios planos após sua posse em 20 de janeiro.
Trump disse que se opõe à acolhida de refugiados em fuga da violência da Síria e que criaria "zonas seguras" no país que, segundo ele, seriam financiadas por países do Golfo Pérsico.
RÚSSIA
Trump disse que terá uma relação "muito, muito boa" com a Rússia, e que poderia trabalhar com Moscou para combater o Estado Islâmico. Ele também disse que irá estudar o reconhecimento da Crimeia, tomada da Ucrânia em 2014, como território russo e anular as sanções impostas por nações ocidentais à Rússia pelo que viram como uma tomada de terra ilegal.
Trump criticou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), dizendo que alguns aliados dos EUA não honraram seus compromissos de defesa. Em julho, ele disse que, se a Rússia atacasse um membro da Otan, analisaria se o país pagou antes de providenciar uma defesa.
SUPREMA CORTE
Como atualmente há uma vaga na Suprema Corte e várias devem surgir nos próximos quatro anos, Trump terá uma chance de dar um viés conservador aos tribunais do país durante décadas.
Sua lista de indicados em potencial foi elogiada por ativistas conservadores e por republicanos do Senado, que estarão ansiosos para ajudá-lo nesta área.