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SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a quarta-feira em alta nos contratos até janeiro de 2028, após dados do IPCA mostrarem uma inflação ainda pressionada no Brasil, mas as taxas com prazos mais longos viraram para o território negativo ao longo do dia, depois que um indicador de preços divulgado nos EUA colocou os rendimentos dos Treasuries em baixa firme.
No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2027 estava em 14%, em alta de 4 pontos-base ante o ajuste de 13,96% da sessão anterior. A taxa para janeiro de 2028 marcava 13,28%, ante o ajuste de 13,273%.
Entre os contratos longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 13,435%, em baixa de 3 pontos-base ante 13,467% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2032 tinha taxa de 13,56%, ante 13,59%.
A sessão desta quarta-feira teve dois vetores principais de influência sobre os DIs. O primeiro deles foi o IPCA, o índice oficial de preços, que registrou queda de 0,11% em agosto, após a alta de 0,26% em julho. No acumulado de 12 meses até agosto, o IPCA teve alta de 5,13%. Economistas ouvidos pela Reuters projetavam queda de 0,15% no mês e elevação acumulada de 5,09% em 12 meses.
Apesar da deflação no mês passado, a abertura do IPCA ainda mostrou alguns pontos sensíveis para o controle da inflação no Brasil. Os serviços intensivos em mão de obra subiram 0,64% em agosto, conforme cálculo do banco Bmg, acima do 0,56% projetado pela instituição. A média dos núcleos de inflação seguiu pressionada, com alta de 0,30%, e a inflação de bens industriais foi de 0,17%, acima do 0,07% esperado.
Profissionais ouvidos pela Reuters avaliaram que, no geral, o IPCA mostrou um quadro ainda desfavorável, o que deu força às taxas dos DIs no início do dia.
“Me parece que os dados do IPCA trouxeram uma visão distorcida da realidade. Tivemos uma deflação em agosto, mas quando olhamos para o qualitativo, para serviços, núcleos de inflação -- eles aceleraram nos últimos 12 meses”, comentou o economista da Suno Research, Rafael Perez. “Então, vai ser difícil o Banco Central discutir corte da Selic ainda este ano”, acrescentou.
Em reação, a taxa do DI para janeiro de 2028 atingiu o maior patamar da sessão, de 13,340% (+7 pontos-base), às 9h24, na esteira da divulgação do IPCA, enquanto o DI de janeiro de 2032 marcou a máxima de 13,660% (+7 pontos-base) no mesmo horário.
Mas o segundo vetor de influência do dia alterou o cenário para os DIs. O relatório do Departamento do Trabalho dos EUA, divulgado às 9h30, mostrou que o Índice de Preços ao Produtor (IPP, na sigla em inglês) para a demanda final caiu 0,1% em agosto, após aumento de 0,7% em julho, em dado revisado para baixo. Economistas consultados pela Reuters previam que o IPP subiria 0,3% no mês passado, após alta de 0,9% relatada anteriormente em julho.
A queda inesperada do PPI reforçou as apostas de que o Federal Reserve cortará juros na próxima semana, o que abriu espaço para a baixa firme dos rendimentos dos Treasuries -- intensificada durante a tarde após leilão de títulos do Tesouro norte-americano.
O movimento dos Treasuries fez as taxas longas dos DIs virarem para o negativo e as curtas reduzirem os ganhos vistos mais cedo.
“O IPCA veio acima do esperado, e o janeiro 2028 abriu 7 pontos. Mas depois o PPI veio com uma leitura de queda, mostrando menor pressão inflacionária nos EUA no meio do cenário de temor com as tarifas comerciais”, comentou à tarde Guilherme Baran, gestor de Renda Fixa e Multimercados da SulAmérica.
“Então, os juros norte-americanos fecharam, e isso acabou aliviando a renda fixa local. A ponta longa (da curva brasileira) zerou e está fechando”, acrescentou durante a tarde.
O movimento do dia, no entanto, não alterou as perspectivas de curto prazo. Perto do fechamento, a curva brasileira precificava em 99% a probabilidade de manutenção da Selic em 15% no encontro da próxima semana do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
No Brasil, destaque ainda para a continuação do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado.
“O julgamento em si não mexe muito no preço, mas a possibilidade de a Casa Branca aumentar as sanções contra o Brasil deixa o mercado em ponto de espera”, avaliou Perez, da Suno. No fim de julho o presidente dos EUA, Donald Trump, definiu a aplicação de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, citando como um dos motivos a ação contra Bolsonaro no Supremo.
Às 16h39, o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- caía 3 pontos-base, a 4,045%.