Por Geoffrey Smith
Investing.com - O aumento da inflação que se seguiu à reabertura das economias em todo o mundo neste ano foi maior e durou mais do que o esperado.
A boa notícia é que ainda é mais provável que a maioria dos fatores que a causaram desapareça no decorrer do próximo ano. A má notícia é que provavelmente vai piorar no curto prazo, colocando as agendas políticas em todo o mundo sob o tipo de pressão que facilmente leva a erros.
Para onde quer que você olhe no mundo agora, os números são péssimos: a inflação dos preços ao consumidor está na máxima de 30 anos nos Estados Unidos e na Zona do Euro, que respondem por cerca de 40% do PIB mundial. E embora haja sinais de que algumas das perturbações na cadeia de suprimentos por trás do pico de preços deste ano estejam diminuindo, o aumento de preços em outras categorias de produtos está se acelerando.
Isso é particularmente real para os alimentos: o índice de preços dos alimentos FFPI da ONU está no seu nível mais alto desde 2011, depois de subir 40 pontos nos últimos 18 meses. A alta nos preços do gás forçou o fechamento de fábricas de fertilizantes na Europa e na Ásia, gerando condições para safras mais pobres e preços ainda mais altos no próximo ano.
Enquanto isso, os preços globais do petróleo atingiram o maior valor em mais de três anos, colocando ainda mais pressão sobre os orçamentos de grandes importadores de energia, como China, Índia e Turquia. A lira turca despencou para seu nível mais baixo em relação ao dólar neste mês, com o banco central do país, sob intervenção cada vez mais pesada do presidente Recep Tayyip Erdogan, se recusando a aumentar as taxas de juros para controlar a inflação.
E, apesar disso, existem sinais de que o pior já passou. Os preços do petróleo em especial parecem agora prontos para uma correção devido à destruição da demanda e à reação tardia dos produtores dos EUA aos preços que agora incentivam uma maior produção. A Agência Internacional de Energia e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo esperam que o mercado mundial apresente um excedente no início de 2021.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, um aumento de 11% na produção de veículos de outubro sugere que as montadoras estão finalmente superando a escassez de semicondutores que as paralisou no meio do ano, forçando compradores de automóveis a buscar estoques escassos a qualquer preço.
Na Europa, por mais que os falcões do Banco Central Europeu tentem descobrir, há poucas evidências de que os aumentos de preços deste ano contribuíram para aumentos salariais generalizados - um ponto que a presidente do BCE, Christine Lagarde, novamente enfatizou diante do Parlamento Europeu na segunda-feira.
Acima de tudo, a China - onde a inflação anual dos preços ao produtor atingiu 13,5% em outubro - está entrando agora em um período de desinflação, devido ao enfraquecimento do setor imobiliário, o qual respondeu por mais de um quarto do PIB nos últimos anos.
Isso já está refletido no preço de matérias-primas como o aço - os contratos futuros de minério de ferro caíram quase 60% do pico de junho para o menor valor desde junho de 2020. Os preços ao consumidor também correspondem - subindo apenas 1,5% no ano até outubro.
“Esperamos que as tendências deflacionárias dos preços se intensifiquem no próximo ano conforme a desaceleração do crescimento em consequência da crise da Evergrande (OTC:EGRNY) com a demanda imobiliária e os insumos associados à construção imobiliária”, afirmou o economista da TS Lombard, Lawrence Brainard, em nota recente aos clientes.
E entre as pressões de curto prazo, é fácil perder de vista o fato de que outras pressões desinflacionárias de longo prazo não cederam. O avanço da automação continua todos os dias, e o choque inflacionário do comércio sob Donald Trump está começando a se desfazer à medida que os EUA e a UE eliminam tarifas sobre bens um dos outro. Uma conversa aparentemente construtiva esta semana entre os presidentes Joe Biden e Xi Jinping sugere que as tarifas podem - talvez - ser suspensas por lá também.
As coisas ainda podem dar errado, é claro. Elas sempre podem. O risco, como enfatizou a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, no fim de semana, é que o fracasso em controlar a pandemia apenas estenda o atual período de distorções extremas nos mercados de bens, serviços e trabalho que estão impulsionando a inflação.
No momento, esse risco está novamente em alta, conforme os casos aumentam em todo o Hemisfério Norte, causando recordes de mortes na Europa Oriental, fechamentos de bares e lojas.
Mas, com todas as outras coisas permanecendo iguais, ainda não há razão para pensar que a inflação global está saindo de controle. A dor dos consumidores é real, e os nervos nos bancos centrais continuarão tensionados por algum tempo, mas as alegações de que a inflação está prestes a sair de controle ainda parecem inadequadas.