Por Geoffrey Smith
Investing.com – A maior economia da Europa não consegue ter um momento de alívio, diante da divulgação de novos dados econômicos nesta sexta-feira, que mostraram que a indústria alemã está em contração e os consumidores do país estão evitando abrir a carteira.
Para piorar ainda mais as coisas, o governo também está sofrendo cada vez mais pressão dos seus vizinhos da União Europeia para rever seu enorme pacote de alívio econômico revelado neste mês, sob acusações do primeiro-ministro italiano Mario Draghi e de outras autoridades regionais de que o país está buscando uma solução individual para a crise energética, sem considerar as necessidades do resto do bloco.
A agência nacional de estatísticas Destatis informou, na sexta-feira, que a produção industrial da Alemanha recuou 0,8% em agosto, mais do que os economistas esperavam, devido à persistência de gargalos da cadeia de suprimentos, ao mesmo tempo em que os níveis hídricos extremamente baixos do rio Reno forçaram o fechamento de uma rota de transporte estratégica de combustíveis e outros insumos industriais essenciais.
Esses problemas elevaram ainda mais os custos de importação, gerando novas pressões inflacionárias que devem se refletir nos preços aos consumidores com o tempo. O valor de produtos importados subiu 4,3% em julho, mais de duas vezes o aumento esperado de 2%, e agora acumulam uma alta de 32,7% no ano.
As vendas no varejo, enquanto isso, recuaram 4,3% em julho em termos reais, com a tendência de alta dos preços se espalhando além dos bens duráveis, como se viu nos últimos meses, à medida que as distorções dos padrões de gastos provocados pela pandemia vão desaparecendo no espelho retrovisor.
“A indústria e toda a economia da Alemanha não tiveram uma parada abrupta, mas estão em meio a um movimento longo e gradual rumo a uma recessão”, afirmou Carsten Brzeski, do ING, alertando que as coisas ainda podem piorar com a chegada do inverno e a menor disponibilidade de gás.
“Os elevados preços de energia pesarão cada vez mais sobre o consumo privado e a produção industrial, tornando a contração da economia inevitável", declarou Brzeski. “A única questão é saber qual será a intensidade dessa contração ou recessão”.
Quatro importantes institutos econômicos disseram, na semana passada, que a estimativa básica para o próximo ano é que ocorra uma contração de 0,4%, e mais: no pior cenário, em que a Rússia corta totalmente o abastecimento de gás e as temperaturas ficam abaixo da média no inverno, a economia alemã pode encolher mais de 7%, um resultado muito mais extremo do que se tem notícia na história recente.
Esse é o contexto da decisão do governo federal alemão de autorizar um pacote de até 200 bilhões de euros a ser financiado pela emissão de dívidas para o enfrentamento da crise energética. O chanceler Olaf Scholz precisará defendê-lo em uma reunião de líderes europeus em Praga, na sexta-feira.
Os recursos emergenciais visam sustentar os níveis gerais de consumo, o que pode afetar os preços do gás no atacado para outros países que não dispõem do mesmo poder econômico no combate à crise.
“Diante das ameaças comuns do atual momento, não podemos nos dividir segundo o espaço disponível em nossos orçamentos nacionais", afirmou Draghi nesta semana. O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, que passou grande parte do ano bloqueando as sanções da UE contra a Rússia, disse que a ação incentivaria um “canibalismo” na corrida para garantir o abastecimento do gás.