Entidades criticaram o corte de 0,25 ponto percentual na Selic, anunciado pelo BC (Banco Central) na noite desta 4ª feira (8.mai.2024). Consideraram a desaceleração no corte da taxa básica de juros “inadequada” e “incompatível” com a inflação do Brasil.
Segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria), a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) em diminuir o ritmo de cortes faz o projeto de neoindustrialização “impraticável” por considerar que os juros ainda estão elevados. Citou ainda a queda do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que caiu de 4,62% acumulado em 12 meses em dezembro de 2023 para 3,93% acumulado em março de 2024.
“A razão para cortes mais intensos da Selic são os prejuízos que as taxas de juros reais elevadas provocam na economia. Mesmo com os cortes já realizados, a taxa de juros real (que desconsidera os efeitos da inflação) está em 6,9% ao ano, ou seja, 2,4 pontos percentuais acima da taxa de juros neutra, aquela que não estimula nem desestimula a atividade econômica. Essa elevada taxa de juros tem efeito direto e negativo na atividade econômica e no crédito”, disse em nota.
A Firjan (Federação de Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) também disse que a decisão é “inadequada” e que a manutenção dos juros em níveis elevados “afeta a confiança dos empresários na economia brasileira”.
O Sebrae destacou que a marca de 10,5% da Selic representa o crédito mais alto para o pequeno empresário e citou “preocupação” com a situação. Apesar da redução de 0,25 p.p, ela não beneficia diretamente os microempreendedores cujos créditos podem chegar a 40% ao ano.
Tanto a CNI, a Firjan e a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) também criticaram a mudança das metas fiscais por parte da equipe econômica de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em desacordo com as políticas monetárias. O ministério da Fazenda, liderada por Fernando Haddad, definiu que a meta de superavit fiscal ficará para 2025 e não em 2024 como havia decidido antes.
A FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) disse que o corte representa uma postura “conservadora” por parte do Copom e que ainda “havia espaço” para um novo corte de 0,5 p.p.
“É claro que, por outro lado, o aumento de gastos do governo pode gerar um efeito pernicioso na economia, já que despejará bilhões de reais em uma conjuntura marcada pelo desemprego baixo (7,8%) e pelo crescimento da renda, cujo efeito se liga diretamente ao aquecimento da demanda”.
Eis a íntegra da nota da Firjan:
“A Firjan considera que a redução da velocidade de corte da taxa Selic é decisão inadequada. A queda de apenas 0,25 ponto percentual não está alinhada com o atual cenário econômico. Dados recentes mostram que o processo de desinflação segue em curso, com a inflação cheia ao consumidor dentro da margem de tolerância da meta. Ademais, a manutenção da taxa de juros em níveis elevados tem afetado a confiança dos empresários na economia brasileira, prejudicando o investimento, essencial para o crescimento econômico sustentável.
“A federação também reforça que, em um cenário de instabilidade externa, marcado pelo acirramento de conflitos geopolíticos e por juros altos, é fundamental o alinhamento entre as políticas fiscal e monetária. A recente mudança das metas fiscais para 2025 e 2026, ao adiar o ajuste fiscal necessário para estabilizar a dívida pública, influenciou as expectativas dos investidores e aumentou o risco-país. Nesse contexto, torna-se crucial reforçar a credibilidade fiscal, através de um esforço para a contenção de despesas. Esse caminho abrirá mais espaço para juros baixos, promovendo, assim, um ambiente propício ao crescimento sustentável da atividade econômica”.
Eis a íntegra da Nota da FecomercioSP:
“Copom adota postura conservadora ao apostar na redução de 0,25 p.p. da Selic
“Segundo a FecomercioSP, ainda havia espaço para cortes mais robustos na taxa de juros, mesmo com incertezas fiscais
“Considerando as condições inflacionárias do País e de mercado nas últimas semanas, o Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central,adotou postura conservadora ao frear o ritmo de cortes da taxa básica de juros do País, a Selic, reduzindo-a em apenas 0,25 ponto porcentual. De acordo com a FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), ainda havia espaço para outra redução de 0,5 p.p., como vinha acontecendo desde julho de 2023.
“Embora a política fiscal seja um fator de preocupação, o comitê poderia ter levado em conta que, em março, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) desacelerou, variando 0,16% e ficando abaixo de 4% no acumulado de 12 meses. É claro que, por outro lado, o aumento de gastos do governo pode gerar um efeito pernicioso na economia, já que despejará bilhões de reais em uma conjuntura marcada pelo desemprego baixo (7,8%) e pelo crescimento da renda, cujo efeito se liga diretamente ao aquecimento da demanda.
“A taxa de juros dos Estados Unidos também é um elemento relevante na decisão. O ciclo de cortes, esperado por analistas do mundo inteiro ainda neste primeiro semestre de 2024, não ocorreu, e a expectativa é que o FED (banco central norte-americano) só comece a baixar os juros no fim do ano ou, até mesmo, no início de 2025, pressionando economias como a brasileira. À medida que as taxas se aproximem (a nacional está, agora, em 10,50%, e a norte-americana, em 5,25%), a tendência é ocorrer uma ‘fuga’ de dólares para os Estados Unidos, já que o país oferece menor risco. Esse processo deprecia o real e, por consequência, aumenta a inflação.
“Ainda assim, o Copom errou ao não vislumbrar o espaço que permanece na economia para outro corte de 0,5 p.p. A FecomercioSP reconhece que as condições de mercado vêm se deteriorando, mas espera que se criem condições para que o ciclo de reduções da Selic permaneça nas próximas reuniões”.
Eis a íntegra da Nota do Sebrae
“Selic bate os 10,5% ao ano. Crédito mais caro para o pequeno empresário preocupa Sebrae
“Anúncio do Copom dificulta tomada de empréstimo pelas micro e pequenas empresas; estratégias como o Acredita podem facilitar crédito para o segmento.
“O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central do Brasil reduziu a taxa básica de juros (Selic) em apenas 0,25%. A decisão foi anunciada nesta 4ª feira (8.mai) e quebra o ciclo de recuos consecutivos de 0,5%. Com isso, a taxa chega ao nível de 10,5% ao ano – em agosto de 2023, o índice era de 13,75%. O Sebrae avalia que, apesar da redução, a medida não beneficia as pequenas empresas, pois o crédito para esse público chega a quase 40% ao ano, impossibilitando a tomada de novos empréstimos.
“Ainda é um valor muito elevado. Entendemos que o Banco Central está preocupado com o cenário externo mais delicado e talvez com as contas públicas, mas não há motivo para retrocesso. O acesso a crédito é fundamental para impulsionar o nosso país, fazer a economia crescer e alavancarmos com mais velocidade a criação de empregos”, avalia o presidente do Sebrae, Décio Lima.
“Nesse contexto, o dirigente ressalta a importância do Acredita, estratégia maior lançada recentemente pelo governo federal com foco nos pequenos negócios e da qual o Sebrae faz parte por meio do Fundo de Aval para Micro e Pequenas Empresas (Fampe) e da plataforma Crédito Consciente, que vai orientar empreendedores na tomada de crédito. O Sebrae entrará como avalista de até 80% da garantia do valor total do empréstimo via Fampe.
“’Aportamos R$ 2 bilhões no fundo, garantindo R$ 30 bilhões de crédito para os pequenos negócios em todo o país nos próximos três anos. É a maior carteira de crédito do país para os nossos pequenos empreendedores. É um somatório de atividades que vão impulsionar essa área que nós representamos e que foi responsável por 80% dos empregos formais em 2023”, continua Décio Lima. “Estamos abrindo a porta das instituições financeiras para este público’, finaliza.
Crédito Consciente
“Na página Crédito Consciente, do Sebrae, o empreendedor tem toda a assistência para que possa viabilizar o acesso a crédito de forma segura. Além de conceder o aval necessário para as operações de crédito junto às instituições financeiras, o Sebrae oferece orientações para que o proprietário de um pequeno negócio inicie a sua jornada ampliando sua consciência e segurança na obtenção de um empréstimo”.
Eis a nota da Abit:
“Abit defende sinergia das políticas fiscal e monetária para maior redução dos juros
“A Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), após o Copom anunciar a queda da Selic para 10,50% ao ano, nesta4ª feira (8.mai), manifesta seu apoio à continuidade do processo de redução. A entidade espera que esse ciclo descendente seja mantido até que o patamar dos juros reais seja compatível com as necessidades de investimento do País.
“Porém, isso somente será possível se o quadro fiscal estiver equilibrado e em sintonia com a política monetária, viabilizando taxas comparáveis às das principais nações. Ao mesmo tempo, é preciso recuperar o grau de investimento da economia brasileira, que se encontra dois degraus abaixo no ranking das agências de classificação de riscos.
“Mesmo com a queda de 0,25 ponto percentual decidida nesta quarta-feira, a Selic segue alta, o que inibe o crescimento sustentado e sustentável do PIB e os investimentos produtivos. Por isso, a Abit defende o equilíbrio fiscal e a consequente sequência da diminuição dos juros básicos”