Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - Os estoques brasileiros de suco de laranja atingiram uma mínima histórica de 84,74 mil toneladas em 30 de junho, data que marca a passagem da safra 2022/2023 para 2023/24, com uma restrição da oferta da fruta no maior produtor global, o Brasil, após safras afetadas pelo clima e também por doenças citrícolas como o greening.
O volume estocado de suco de laranja do maior exportador global caiu 40,7% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo levantamento realizado por auditorias independentes junto às maiores empresas do mundo e divulgado nesta quarta-feira pela associação de exportadores do Brasil, a CitrusBR.
O total estocado vem tendo redução significativa nos últimos anos desde 2020, quando atingiu 471,1 mil toneladas em 30 de junho. Comparado a 2012, quando começa a série histórica da CitrusBR, o volume de suco congelado e concentrado (66 graus Brix) representa 12,8% dos estoques de mais de 660 mil toneladas daquela época.
Os preços do suco de laranja negociados na bolsa de Nova York vêm refletindo a situação da oferta no Brasil nos últimos tempos, assim como a queda na safra da Flórida, sendo negociados atualmente em patamares recordes acima de 3,30 dólares por libra-peso. Nesta quarta-feira, subiam 3%.
Do lado da demanda, há incertezas se ela seguirá firme diante de eventuais efeitos dos preços altos para o consumo, disse o diretor-executivo da CitrusBR, Ibiapaba Netto, à Reuters.
"A demanda saiu um pouco mais elevada da pandemia, mas o ponto é que como teve valorização muito grande do suco, a gente não sabe qual o efeito da elasticidade de preço sobre isso. Alguns mercados são muito elásticos", disse ele.
"Com o aumento de preço para o consumidor, não dá para saber como vai ficar a demanda, até porque a produção existente até agora não foi suficiente para atender a demanda...", completou.
Netto disse que as pessoas podem continuar demandando o produto, considerando questões de saúde após a pandemia da Covid-19, apesar dos preços mais altos. Ou há a possibilidade de substituição do suco por outras bebidas mais baratas. "Por isso é muito difícil calcular a demanda agora."
A CitrusBR notou que os efeitos da redução na oferta do Brasil nos últimos anos para o mercado foram amplificados pela queda na produção de laranjas da importante região da Flórida, que tem enfrentado graves efeitos do greening, assim como o impacto do furacão Ian, que reduziu a safra do Estado americano em mais de 60% para 15,8 milhões de caixas de 40,8 kg em 2022/23.
Com secas severas em outros países produtores, como México e Espanha, o quadro de oferta e demanda global não teve alívio apesar de uma recuperação na safra 2022/23 do Brasil, cujo processamento cresceu após o país ter enfrentado a menor colheita em cinco anos em 2021/22, afetada por estiagem e geadas.
Em 2022/23, a indústria brasileira aumentou em 18% o volume processado da fruta em relação à safra anterior, para 265,29 milhões de caixas de 40,8 quilos, informou a CitrusBR nesta quarta-feira. E a produção total de suco de laranja do Brasil na safra 2022/23 avançou 15%, para 945,5 mil toneladas.
Se o clima não foi tão ruim no cinturão citrícola do Brasil em 2022/23, o setor lida por outro lado com um avanço mais intenso do greening nos pomares.
A incidência da doença, que não tem cura e reduz a produtividade dos laranjais, saltou para 38% em 2023 na área citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro, segundo a entidade de pesquisa Fundecitrus.
"Considerando as primeiras estimativas para a safra 2023/24 realizadas pelo Fundecitrus, que apontam uma redução de 1,6% na produção, somados aos problemas de Brix na produção de suco de laranja, é possível prever dificuldades no fornecimento do produto ao longo da temporada", disse a CitrusBR, reforçando a dificuldade de se fazer previsões sobre o oferta e demanda e para os estoques em 2024.
Na temporada anterior, as exportações brasileiras de suco de laranja tiveram leve queda, para 1,03 milhão de toneladas, segundo dados da CitrusBR publicados em julho.
No período, as exportações para os Estados Unidos (segundo maior destino do suco brasileiro) saltaram 55,3%, para atender o país em meio à redução na produção da Flórida, enquanto os embarques para a Europa (principal mercado) tiveram queda de 16,2%.
(Por Roberto Samora)