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Os desafios que o novo governo eleito enfrentará em 2023, segundo economistas

Publicado 26.12.2022, 14:12
© Reuters.

Por Jessica Bahia Melo

Investing.com – Em meio à desaceleração global e políticas monetárias contracionistas em países desenvolvidos, o governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá uma série de desafios econômicos. Encontrar alternativas para uma nova âncora fiscal crível que viabilize o controle de gastos, possibilitando uma queda nos juros básicos sem aumentar novamente a inflação, retomar a aproximação internacional com países que foram deixados de lado e, finalmente, tirar do papel uma Reforma Tributária estão entre alguns dos pontos que devem ser destaque no ano que vem, segundo economistas consultados pelo Investing.com.

Equipe econômica

A equipe econômica do governo eleito mostra uma composição mais ligada ao Partido dos Trabalhadores (PT) do que à frente ampla que ajudou Lula a vencer Jair Bolsonaro (PL) na disputada eleição deste ano. A equipe é composta pelo ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) no ministério da Fazenda, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) na pasta de Indústria e Comércio e Guilherme Mello como secretário de Política Econômica. Já Bernard Appy como secretário especial para Reforma Tributária foi ponto positivo destacado pelos economistas, tendo em vista que os estudos do diretor do Centro de Cidadania Fiscal (CCiF) foram base de projeto que tramita hoje no Congresso. Após anos de discussão, se essa reforma sair do papel, seria uma vitória histórica para o governo.

Enquanto o economista-chefe da MB Associados Sérgio Vale acredita que a equipe terá o aumento da arrecadação como foco, Alexandre Schwartsman afirma que há um grande descolamento entre as falas de Haddad e as medidas anunciadas, como a proposta de aumento de gastos aprovada para 2023. “Enquanto persistir essa dissonância entre o que é dito e o que é feito, ninguém vai realmente acreditar. Todas as vezes em que houve um conflito entre o interesse de curto prazo do governo de plantão e as medidas de ajuste fiscal, quem levou a melhor foi interesse de curto prazo”.

Fiscal e juros

As contas públicas são alvo de preocupação dos especialistas após a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, enquanto o governo eleito ainda não define qual âncora fiscal deve substituir o teto de gastos para atender demandas sociais. “Olhávamos antes quando o Banco Central iria começar a reduzir os juros. Hoje, a discussão virou quando talvez o BC deva ter que começar a subir novamente”, alerta Vale. Para Vale e Schwartsman, é preciso avaliar a estrutura do crescimento dos gastos para que o arcabouço fiscal, sendo novo ou não, possa ser efetivamente cumprido.

Na contrapartida, o economista André Perfeito acredita que os juros não devem subir no ano que vem. Para Perfeito, o governo eleito não deve adotar medidas de descontrole fiscal, com a perspectiva de que uma política econômica mais comedida possa impulsionar Haddad como candidato à Presidência em 2026.

Salário-mínimo

Os anúncios de Lula sobre uma política de valorização do salário-mínimo – que já ocorreu anteriormente em seus governos – trazem algumas ponderações. Para Perfeito, o contexto econômico dos governos anteriores permitia altas mais agressivas, inexistente no momento, com choques como a Guerra da Ucrânia. “Se isso ocorrer agora, além de poder ter um choque na inflação, porque salário sobe, vai bater no setor que é mais intensivo de mão-de-obra, que é serviços”, ressalta. “Atrelar esse crescimento de produtividade ao salário-mínimo real faria mais sentido do ponto de vista econômico”, completa Vale.

Desemprego

Outro preocupação é uma possível alta da taxa de desocupação. Rodolfo Margato, economista da XP, que projeta um PIB de 1% em 2023, explica que um crescimento mais modesto deve elevar o desemprego, ainda que a uma taxa muito abaixo da verificada nos últimos anos. “Estimamos 1,8% de crescimento anual do PIB potencial, aquela capacidade de longo prazo. Devido ao aperto monetário, a economia deve crescer abaixo do seu potencial e isso nos leva a calcular algum aumento de taxa de desemprego”.

Cenário externo e commodities

Mesmo que o mercado externo passe por riscos que vão de desaceleração à recessão, a perspectiva de reabertura pós-lockdown na China - maior parceiro comercial do Brasil - anima. “Com comércio baseado em commodities, quando elas começam a subir, o Brasil fica mais fácil de gerir do ponto de vista de políticas públicas e o setor privado também vai nessa linha. Se a China crescer, fica mais fácil ainda e representa um pouco do que ocorreu no primeiro governo Lula”, indica o economista Rodrigo Almeida, gestor de portfólio na Nest Asset.

A XP concorda com essa visão e acredita em um crescimento chinês mais robusto em 2023 – o que impulsionaria as exportações brasileiras, um país bem-posicionado neste cenário. Margato lembra que a pauta exportadora do Brasil é concentrada em commodities como soja e minério de ferro, entre outras, que são menos sensíveis a efeitos de preço e choques externos.

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