Por Antoni Slodkowski e James Pomfret e Laurie Chen
PEQUIM/HONG KONG (Reuters) - Quando Donald Trump chegou à Casa Branca pela primeira vez há oito anos, líderes chineses agitados reagiram com força às suas tarifas e à sua retórica inflamada, resultando em uma guerra comercial que fez com que os laços entre as maiores economias do mundo caíssem para os mais baixos níveis em vários anos.
Desta vez, Pequim tem se preparado para o retorno de Trump, aprofundando laços com aliados, aumentando a autossuficiência em tecnologia e reservando dinheiro para sustentar a economia, que agora está mais vulnerável a novas tarifas, as quais Trump já ameaçou impor.
Embora alguma retaliação a essas medidas possa ser inevitável, a China se concentrará em explorar brechas entre os Estados Unidos e seus aliados, dizem os especialistas, e buscará baixar a temperatura para ajudar a fechar um acordo antecipado para amortecer o impacto do atrito comercial.
Zhao Minghao, especialista em relações internacionais da Universidade Fudan, de Xangai, disse que a China provavelmente não repetirá o manual do primeiro mandato de Trump, quando Pequim teve uma reação muito forte às suas medidas tarifárias.
Ele destacou a mensagem do presidente da China, Xi Jinping, para Trump na quinta-feira, na qual Xi pediu "cooperação" e não "confronto", enfatizando relações "estáveis, sólidas e sustentáveis" entre as duas superpotências.
"Trump não é um estranho para Pequim neste momento", disse Zhao à Reuters. "Pequim responderia de forma ponderada e se esforçaria para se comunicar com a equipe de Trump."
Embora os gigantes chineses da tecnologia sejam agora muito menos dependentes das importações dos EUA, a economia -- atingida por uma enorme crise imobiliária e sobrecarregada com dívidas insustentáveis -- está em uma posição mais fraca do que em 2016, sofrendo para arrancar um crescimento de 5% em comparação com os 6,7% daquela época.
Para piorar a situação, Trump prometeu acabar com o status de nação comercial mais favorecida da China e aplicar tarifas sobre as importações chinesas superiores a 60% -- muito mais altas do que as impostas durante seu primeiro mandato.
Zhao, da Fudan, disse que Pequim tem esse cenário em mente, mas espera que as tarifas fiquem abaixo do nível prometido na campanha, porque "isso aumentaria significativamente a inflação nos EUA".
Ainda assim, essa ameaça, por si só, enervou os produtores da maior exportadora do mundo porque a China vende mercadorias no valor de mais de 400 bilhões de dólares por ano para os EUA e centenas de bilhões a mais em peças para produtos que os norte-americanos compram em outros lugares.
Li Mingjiang, um acadêmico da Escola de Estudos Internacionais de Rajaratnam em Cingapura, disse que, como resultado, a economia chinesa pode precisar de um estímulo ainda maior do que os 1,4 trilhão de dólares esperados nesta sexta-feira.
"Será um golpe muito sério para o comércio internacional da China que afetará os empregos e as receitas do governo", disse Li. "A China provavelmente terá que apresentar um pacote de estímulo muito maior internamente."
(Reportagem adicional de Karen Friefeld e Eduardo Baptista)