Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros fecharam a terça-feira em alta firme, em especial entre os contratos mais longos, em meio à continuidade do movimento de elevação dos rendimentos dos Treasuries nos EUA e após a ata do Copom e o IPCA-15 darem indicações de que o Banco Central não terá espaço para acelerar o ritmo de cortes da Selic.
No início do dia, a ata do mais recente encontro do Comitê de Política Monetária disse que os dirigentes do BC terão uma “atuação firme” para ancorar as expectativas de inflação.
No documento, o colegiado pontuou que as expectativas de inflação seguem acima da meta e que alguns membros acreditam que ainda não é possível ter convicção sobre o comportamento benigno da inflação de serviços.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) subiu 0,35% em setembro, abaixo da expectativa de 0,38% da pesquisa da Reuters. A composição do indicador, no entanto, não agradou. A inflação de serviços acumulou alta em 12 meses de 5,6% em setembro, acima dos 5,4% do acumulado até agosto.
Na prática, as preocupações expressas na ata e os dados do IPCA-15 reforçaram a leitura de que o BC terá pouco espaço para acelerar o processo de cortes da taxa básica Selic, atualmente em 12,75% ao ano.
“A ata mostra uma barra bem alta para a intensificação do ritmo de queda da taxa Selic em 2023. Nesse sentido, apesar de ainda mantermos o call de aceleração para um ritmo de 75 bps em dezembro e de uma taxa Selic de 9,0% no final do ciclo em 2024, reconhecemos que essa probabilidade diminuiu”, pontuou Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Rena, em análise enviada a clientes.
O mercado também monitorava a possibilidade de o teto anual para pagamento de precatórios cair após julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Na segunda-feira, a Advocacia-Geral da União (AGU) se manifestou sobre o assunto.
O governo defende a abertura de crédito extraordinário para o pagamento dos precatórios pendentes até então, no valor de 95 bilhões de reais, mas o assunto, que diz respeito à área fiscal, causa certa apreensão no mercado.
Esses fatores domésticos somaram-se nesta terça-feira ao ambiente externo, onde os rendimentos dos Treasuries voltaram a subir, ainda em meio ao processo de ajustes de posições de investidores à perspectiva de que o Federal Reserve manterá os juros mais altos por mais tempo.
“O fator principal para a alta das taxas longas no Brasil hoje (terça-feira) é o exterior. Há um ambiente de mais aversão, de forte reversão das taxas de juros longas nos EUA” comentou o economista da BlueLine Asset Management, Flavio Serrano. “Tivemos um ajuste importante nos EUA de quarta-feira para cá, o que influencia o Brasil.”
Serrano afirma que os fatores internos deram suporte aos juros curtos, enquanto o exterior impulsionou os longos -- que subiam mais. Com isso, a curva a termos ganhou inclinação.Perto do fechamento, a curva a termo precificava em apenas 1% as chances de o corte da taxa básica Selic em novembro ser de 0,75 ponto percentual. Já as chances de corte de 0,50 ponto percentual eram precificadas em 99%.
No fim da tarde no Brasil a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,255%, ante 12,26% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,735%, ante 10,581% do ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2026 estava em 10,57%, ante 10,336%
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,845%, ante 10,626%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,185%, ante 10,969%.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries seguiam em alta.
Às 16:48 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento-- subia 1,20 ponto-base, a 4,554%.