Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar avançou frente ao real nesta quarta-feira, refletindo salto da moeda norte-americana no exterior em meio a temores sobre o ciclo de alta de juros do Federal Reserve, mas falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do presidente da Câmara, Arthur Lira, ajudaram a limitar as perdas da divisa brasileira.
No mercado à vista, o dólar fechou em alta de 0,36%, a 5,2182 reais na venda.
Na B3 (BVMF:B3SA3), às 17:07 (horário de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,45%, a 5,2265 reais.
Segundo participantes do mercado, esse movimento acompanhou a valorização da divisa norte-americana no exterior, onde um índice que compara o dólar a uma cesta de seis pares fortes avançava mais de 0,7% nesta tarde.
Dados desta terça-feira mostraram que as vendas no varejo dos Estados Unidos se recuperaram de forma acentuada em janeiro, após duas quedas mensais consecutivas, o que renovou temores de investidores de que o Federal Reserve precisará continuar elevando os juros de forma a esfriar a atividade econômica e conter a inflação. Mais cedo neste mês, uma forte leitura de criação de postos de trabalho referente a janeiro já havia alimentado esses receios.
"Janeiro foi um mês otimista por parte de investidores; os mercados melhoraram bastante, como se o Fed fosse terminar o ciclo de juros já agora ou com só mais uma alta, mas o mercado de emprego está muito aquecido e não está deixando o Fed finalizar o ciclo", disse à Reuters Luiz Osório Leão Filho, gestor de investimentos SOMMA, que espera pelo menos mais dois ajustes no juro pelo banco central norte-americano este ano.
Quanto mais sobem os custos dos empréstimos nos EUA, mais o dólar tende a se beneficiar globalmente, conforme investidores redirecionam recursos para o mercado de renda fixa norte-americano.
Apesar da força global do dólar, falas de autoridades brasileiras ajudaram a conter as perdas do real, que teve desempenho superior ao de vários pares arriscados durante a sessão. Dólar australiano, rand sul-africano e peso chileno, por exemplo, caíram mais de 1% no dia.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quarta-feira que entende a ansiedade do mercado financeiro e que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciará no mês que vem a proposta de um novo marco fiscal para o país, que será debatida com a sociedade.
Quanto antes vier a definição sobre o plano fiscal, "melhor", uma vez que isso abrirá espaço para os fundamentos econômicos do Brasil falarem mais alto, disse Leão Filho. Ele destacou que incertezas sobre o arcabouço das contas públicas e discussões sobre a meta de inflação do Brasil têm "gerado muito ruído no curto prazo" e que "o real deveria estar mais apreciado".
Já o presidente da Câmara, Arthur Lira, afirmou nesta quarta-feira que não vê "nenhuma possibilidade" na mudança da independência do Banco Central no Congresso, após recentes críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à autarquia.
Lira também disse que Lula e o presidente do BC, Roberto Campos Neto, saberão dialogar.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho (NYSE:MFG) no Brasil, disse que as "notícias estão ajudando a reduzir algumas das preocupações mais recentes dos investidores", citando tanto as declarações de Haddad quanto as de Lira.
"O que deixa mais claro que há um componente doméstico no preço dos ativos no Brasil é o fato de a gente ver o Ibovespa descolado do movimento lá fora", disse Rostagno. O índice da bolsa paulista avançava 1,7% nesta tarde, enquanto as ações em Wall Street alternavam estabilidade e leves perdas.
Agora, o mercado fica à espera da primeira reunião no novo governo do Conselho Monetário Nacional (CMN), a quem cabe fixar as metas de inflação a serem perseguidas pelo BC, na quinta-feira. Haddad afirmou na terça-feira que a meta de inflação não está na pauta do encontro, depois de rumores de que Lula teria pedido que a meta de inflação, hoje em 3,25% para este ano, fosse aumentada em 1 ponto percentual.
(Reportagem adicional de André Romani)