Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar voltou a fechar em alta nesta quinta-feira, após duas sessões de recuo, à medida que fluxos de saída de estrangeiros e os altos prêmios de risco do país, impulsionados por temores fiscais, mais do que compensavam a euforia inicial dos investidores com a decisão do Copom na véspera, em pregão que contou com leilões de linha do Banco Central.
O dólar à vista encerrou o dia em alta de 0,90%, cotado a 6,0128 reais.
Na B3 (BVMF:B3SA3), às 17h35, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,76%, a 6,011 reais na venda.
No início da sessão desta quinta, o dólar chegou a recuar de forma acentuada com a reação positiva do mercado à decisão do Copom na véspera de elevar a Selic em 1 ponto percentual, a 12,25% ao ano, e sinalizar mais duas altas de mesmo tamanho no próximo ano.
A sinalização para as duas próximas reuniões pegou os investidores de surpresa. Além do fato de o BC vir evitando o fornecimento de um "guidance" para seus encontros futuros, os analistas não previam duas altas dessa magnitude no próximo ano.
A elevação da Selic aumenta o diferencial de juros do Brasil com as taxas de países com moedas fortes, como o caso dos Estados Unidos, o que torna o real bastante atrativo para operações de "carry trade".
Com isso, o dólar atingiu a mínima da sessão às 9h06, a 5,8696 reais (-1,50%).
Por volta das 12h15, no entanto, a divisa dos EUA mudou de direção e passou a subir ante o real.
Segundo analistas, o movimento ocorreu na esteira, primeiramente, das perdas na bolsa brasileira, que ocorriam justamente pela perspectiva de uma Selic mais alta do que o esperado para o início do próximo ano, levando investidores estrangeiros a realizar lucros e encaminhá-los para o exterior.
"A performance da bolsa está refletindo no câmbio. Então, está saindo dinheiro da bolsa e grande parte retornando para o exterior e isso está impactando a liquidez", disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
Às 17h34, o Ibovespa recuava 1,18%, a 126.325,36 pontos.
Esse fluxo explicaria porque os dois leilões de linha realizados pelo Banco Central durante a amanhã, quando vendeu um total de 4 bilhões de dólares com compromisso de recompra, tiveram efeito nulo nas cotações do dólar.
A autarquia costuma realizar leilões de linha nos finais de ano, em especial em dezembro, para atender à demanda por moeda para envio ao exterior, mas não justificou o motivo para as vendas desta quinta-feira.
No fim da manhã, o BC ainda vendeu todos os 15.500 contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão para rolagem do vencimento de 2 de janeiro de 2025.
Alguns analistas também chamaram atenção para os altos prêmios de risco na curva de juros brasileiras, com as taxas de DIs (Depósitos Interfinanceiros) subindo no longo prazo, sobretudo devido aos temores dos investidores com o equilíbrio das contas públicas, o que afastou a entrada de recursos estrangeiros.
Nessa questão, o foco parecia estar nas notícias sobre o quadro de saúde do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao permanecer no hospital após realizar uma cirurgia para drenar um hematoma no crânio, o chefe do Executivo estava longe das mais recentes articulações pelo avanço do pacote de contenção de gastos no Congresso, gerando no mercado mais incerteza sobre a tramitação das medidas.
Por outro lado, a sinalização dos médicos de Lula de que seu quadro de saúde continua estável estaria derrubando expectativas criadas por alguns investidores de que a hospitalização poderia afastar as chances de o petista disputar a reeleição, o que abriria espaço para um nome mais alinhado ao mercado.
"Mercado está operando muita mais com notícia, principalmente sobre a saúde do presidente. Acho que o mercado já jogou a toalha para esse governo, mas é um movimento muito mais especulativo do que estrutural", disse Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
"O que está elevando o prêmio é uma continuidade do cenário atual com risco fiscal, o que significa uma continuidade desse governo", completou.
O dólar atingiu a máxima da sessão às 14h39, a 6,0489 reais (+1,51%).
No exterior, o dólar também operava com força, subindo frente a maioria das divisas de países emergentes, como peso mexicano e rand sul-africano, o que também extraía recursos do mercado brasileiro.
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,41%, a 106,990.