Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar fechou em leve alta nesta quarta-feira, ao fim de uma jornada de ganhos e perdas, com alguma aderência à movimentação da moeda no exterior e investidores ainda em clima de expectativa pelo discurso do comandante do banco central norte-americano em evento nesta semana.
O dólar à vista avançou 0,23%, a 5,1106 reais na venda, após oscilar entre 5,125 reais (+0,51%) e 5,0806 reais (-0,36%).
No exterior, o índice do dólar, que chegou a subir 0,52% na máxima do dia, estava praticamente estável.
O mercado veio de uma forte queda global do dólar na véspera, na esteira de indicadores mais fracos nos Estados Unidos que reavivaram esperanças de que o Federal Reserve seja menos duro nas próximas sinalizações de política monetária.
Nesta quarta, foram divulgados números de bens duráveis, que vieram abaixo do esperado, e uma queda menor que a temida nas vendas pendentes de moradias nos EUA em julho.
Todos os holofotes estão voltados para o chair do Fed, Jerome Powell, que falará no simpósio anual de banqueiros centrais em Jackson Hole (EUA) na sexta-feira. O mercado busca pistas sobre se o banco central está avaliando desacelerar o ritmo de elevações de juros, que têm sido de incomum 0,75 ponto percentual, à medida que cresce entendimento de que a inflação pode ter atingido pico.
"Ele (Powell) teria de ser muito 'hawkish', muito duro para o mercado piorar ainda mais. O mercado já colocou bastante no preço nos últimos dias", disse Marcos Weigt, chefe de tesouraria do Travelex Bank.
Para Weigt, a moeda brasileira, a despeito do contexto mais arisco, tem se mostrado "resiliente". Segundo ele, mesmo novas altas de juros nos EUA não ofuscariam o tamanho da taxa brasileira. A Selic está em 13,75% ao ano, e o juro básico norte-americano se encontra numa faixa entre 2,25% e 2,50% ao ano.
Na quarta-feira, o real foi uma das moedas de melhor desempenho na sessão. Apesar do clima arisco mais recentemente o dólar tem se mantido distante de máximas perto de 5,50 reais alcançadas há cerca de um mês, com relatos de fluxo de capital em parte pela sinalização do Banco Central do Brasil de término do ciclo de alta dos juros.
"Nesse contexto há presença do investidor estrangeiro retornando aqui ao Brasil", disse Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, citando que num cenário de incertezas internacionais a atenção pode se voltar para os mercados emergentes, grupo do qual o Brasil é um dos integrantes mais atrativos.
Pelos dados da B3 (BVMF:B3SA3), o não residente já colocou na bolsa brasileira, via mercado secundário, quase 17,6 bilhões de reais em agosto até dia 22, segundo dados mais recentes, a caminho do melhor mês desde março.
Em relatório de estratégia de câmbio, o Morgan Stanley (NYSE:MS) cita que a valorização dos mercados acionários em países ricos deve estimular algum declínio do dólar a caminho do fim do mês. Em teoria, essa fraqueza da moeda norte-americana poderia se estender para mercados emergentes, especialmente aqueles que contam com o atrativo de juro real alto, caso do Brasil.
Em agosto, o dólar cai 1,20% ante o real, enquanto sobe entre 1,3% e 2,9% contra peso colombiano, peso chileno, rand sul-africano e lira turca.
Do lado técnico, indicadores ainda apontam a taxa de câmbio lateralizada --o dólar tem se movimentado numa faixa estreita por quase todo o mês de agosto, tentando encostar no suporte representado pela média móvel de 100 dias (perto de 5,06 reais), mas sem sucesso.
Antes, a cotação enfrenta suporte em 5,0742 reais (mínima recente). Posteriormente, encara a linha de 5,05 reais, que representa 50% de retração na escala de Fibonacci de análise técnica entre a mínima do começo de abril e a máxima de julho.
(Por José de Castro; edição de Isabel Versiani)