O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 25, em alta de 0,47%, cotado a R$ 5,0647, em sintonia com o movimento global do mercado de moedas. Queda da confiança do consumidor nos EUA e dúvidas sobre a saúde do sistema financeiro americano, após resultado decepcionante First Republic Bank (NYSE:FRC), reacenderam os temores de recessão da maior economia do mundo.
Em tradicional movimento de aversão ao risco, investidores abandonaram bolsas e correram para se abrigar nos Treasuries, cujas taxas recuaram, e na moeda americana. Termômetro do desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY operou em alta firme e se aproximou da linha dos 102,000 pontos.
Na outra ponta da gangorra, commodities metálicas e as cotações internacionais do petróleo recuaram, com o tipo Brent para julho fechando em queda de 2,35%, a US$ 80,60 o barril. Divisas de países exportadores de commodities e emergentes caíram em bloco frente à moeda americana, com raras exceções, como o peso chileno. O real, que costuma apresentar perdas mais fortes em episódios de aversão ao risco, desta vez não amargou o pior desempenho, papel que coube ao rand sul-africano.
"Temos movimento de aversão global ao risco que pressiona as divisa emergentes. Os aumentos de juros esperados nos EUA e na Europa levam a preocupação com o crescimento global", afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, acrescentando que dados recentes da China mostraram crescimento menos robusto do gigante asiático, o que acaba afetando os emergentes.
Por aqui, o dólar até ensaiou um recuo na primeira hora de negócios, quando registrou mínima a R$ 5,0311, com operadores relatando entrada de fluxo comercial. Mas logo a divisa se alinhou à tendência externa e, ainda pela manhã, correu até máxima a R$ 5,0840. Houve aumento da liquidez, com o contrato de dólar futuro para maio movimentando mais de US$ 13 bilhões.
Para o head da tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, a alta do dólar hoje pode ser atribuída a um movimento de aversão ao risco no exterior, com risco de recessão nos EUA em meio à divulgação de resultados de empresas americanas. Ele observa, contudo, que o real tem apresentado um bom desempenho nos últimos dias na comparação com cesta de moedas emergentes e de países exportadores de commodities.
"Aqui, o que vai definir se o dólar vai subir ou não no curto prazo vai ser como o arcabouço fiscal vai passar no Congresso. É preciso saber se vão reduzir ou aumentar as exceções ao limite de gastos. Vamos ver como isso vai se desenrolar", afirma Weigt.
Segundo operadores, a participação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado foi acompanhada, mas não teve papel relevante na formação da taxa de câmbio. Campos Neto voltou a falar da desancoragem das expectativas de inflação e repetiu que não há relação mecânica entre aprovação da proposta de novo arcabouço fiscal e a política monetária.
Em participação no Fórum Empresarial Brasil-Espanha, em Madri, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou novamente a gestão da política monetária ao repetir que "é impossível fazer investimento" com a taxa Selic em 13,75% ao ano. No início da tarde, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo indicará dois nomes para ocupar diretorias do Banco Central (Política Monetária e Fiscalização) assim que Lula voltar da viagem internacional.