(Corrige no 6° parágrafo para "Fabrizio Velloni economista-chefe da Frente Corretora", e não "B.Side Investimentos", como havia sido informado anteriormente por sua assessoria de imprensa)
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar mostrava instabilidade frente ao real nesta terça-feira, alternando altas e baixas, ora refletindo a cautela de investidores em relação à paralisação de rodovias no país e ao silêncio do presidente Jair Bolsonaro (PL) após sua derrota nas eleições, ora estendendo movimento de alívio visto na véspera após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Também fornecia algum apoio ao real o sentimento internacional otimista, com alta das bolsas globais e queda generalizada da divisa norte-americana.
Às 10:13 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,13%, a 5,1584 reais na venda. A sessão era marcada por instabilidade, e o dólar oscilou de 5,1362 (-0,56%) a 5,2083 reais (+0,83%) ao longo dos primeiros negócios, trocando de sinal várias vezes.
Na B3 (BVMF:B3SA3), às 10:13 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,45%, a 5,1895 reais.
Preocupava investidores o bloqueio ou interdição de estradas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, derrotado no segundo turno da eleição presidencial. Os protestos se espalhavam por 20 Estados e o Distrito Federal nesta terça-feira.
"Isso pode afetar principalmente o segmento de exportações agrícolas, visto que pode dificultar o escoamento da produção para os portos. Isso traz à tona aquele fantasma da greve dos caminhoneiros do governo do (ex-presidente Michel) Temer, então é bom ficar de olho nisso e isso pode, sim, mudar a tendência do mercado e puxar (o dólar) para cima", disse Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.
Enquanto isso, Bolsonaro, que durante quatro anos de seu mandato colocou em dúvida sem apresentar provas as urnas eletrônicas e fez frequentemente alegações falsas sobre o sistema eletrônico de votação, ainda não se manifestou sobre o resultado das urnas de domingo, e nem reconheceu sua derrota.
"Dado que os caminhoneiros são tradicionais apoiadores (de Bolsonaro), acredita-se que sua reação possa diminuir a extensão desses protestos", avaliou o Citi em relatório.
"A eleição ocorreu de forma relativamente pacífica, então vemos menor risco de haver uma escalada significativa de contestação do resultado do ponto de vista judicial. No entanto, a extensão desses protestos pode perturbar temporariamente a economia, potencialmente aumentando os preços/inflação e prejudicando a atividade econômica", completou o banco.
Na véspera, os mercados brasileiros reagiram muito bem à percepção de que havia pouco risco de contestação do resultado da eleição, já que uma transição de poder tranquila tornaria o Brasil mais atraente para investidores estrangeiros. O dólar à vista fechou a segunda-feira em baixa de 2,59%, a 5,1652 reais na venda, maior depreciação percentual diária desde o último dia 3 (-4,03%) e cotação mais baixa para encerramento desde o dia 21 passado.
Investidores também citaram a percepção positiva de agentes internacionais sobre Lula --cuja agenda é vista como muito mais alinhada à governança ambiental, social e corporativa (ESG, na sigla em inglês) do que a de Bolsonaro-- como um fator de apoio para o real. ESG é um fator que é levado em consideração para decisões de investimento de várias instituições financeiras e governamentais globais.
Segundo Velloni, da Frente Corretora, as negociações no mercado de câmbio devem permanecer voláteis enquanto seguir indefinida a equipe econômica do governo Lula.
O economista também chamou a atenção para o cenário externo, onde esperanças de que a inflação norte-americana tenha atingido seu pico e de que o Federal Reserve desacelere seu ritmo de altas de juros sustentavam o bom humor dos mercados. Um índice que compara o dólar a seis pares fortes caía 0,7% nesta manhã.