O dólar voltou a cair forte, ajudado pela entrada de fluxo externo e a expectativa de mais recursos estrangeiros pela frente, à medida que o Banco Central deve elevar os juros nesta quarta-feira para 3,5% ao ano e ainda sinalizar novo aumento em junho, deixando a taxa básica do Brasil mais alinhada a outros emergentes. Economistas do Itaú acreditam que a Selic mais alta deve estimular ainda os exportadores, que têm preferido manter seus dólares lá fora, a trazerem a moeda estrangeira para o Brasil, contribuindo para valorização da divisa brasileira.
Nesse ambiente, o real teve nesta quarta-feira o melhor desempenho internacional ante o dólar em uma cesta de 34 moedas mais líquidas.
No fechamento, o dólar à vista recuou 1,21%, a R$ 5,3648. No mercado futuro, o dólar para junho era negociado em baixa de 1,36%, a R$ 5,3845 às 17h30.
Para a analista de câmbio e emergentes do Commerzbank, Melanie Fischinger, além de elevar os juros em 0,75 ponto porcentual nesta quarta, o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) deve vir mais duro, ou seja, com tom 'hawkish', por conta da inflação acima da meta e o câmbio pressionado, mesmo com a melhora recente do real, o que não permite antever alívio da pressão nos preços pela frente. Para ela, sem resolver os riscos fiscais associados à piora da pandemia, a recente apreciação do real pode não se sustentar. Se os números de casos de covid não mostrarem melhora mais forte, pode crescer a pressão por mais gastos públicos e nova rodada de auxílio emergencial, provocando nova rodada de estresse no câmbio.
Já os economistas do Itaú Unibanco (SA:ITUB4) estão com visão um pouco mais otimista com o real, por conta da perspectiva de superávit comercial recorde este ano no Brasil, de US$ 72 bilhões, ajudado pela alta dos preços das commodities. Além disso, os economistas do banco, Julia Gottlieb, Laura Pitta e João Pedro Bumachar, avaliam que a Selic mais elevada tende a fazer o exportador internalizar mais receitas de exportações. Em 2020, estes agentes deixaram ao redor de US$ 30 bilhões no exterior.
O Itaú fez um exercício considerando o Credit Default Swap (CDS), medida do risco-País, nos níveis atuais, ao redor de 190 pontos, e a Selic indo a 5,5%. Nesse ambiente, a diferença entre a balança comercial física e a contratada pode cair a US$ 17 bilhões, ou seja, quase a metade dos níveis de 2020. Com esses fluxos, o real tende a reduzir o descolamento da melhora dos preços das commodities e de seus pares mais afetados pela pandemia, alguns como o peso chileno e o rand da África do Sul, já sendo negociados em níveis de antes da crise.
A entrada de capital externo segue forte no Brasil. Dados divulgados nesta quarta-feira pelo Banco Central mostram que o fluxo cambial continua alto, com destaque para o canal comercial. Na semana passada (de 26 a 30 de abril) o fluxo ficou positivo em US$ 3,220 bilhões. Desse total, a maioria (US$ 2,903 bilhões) foi pelo saldo do comércio. Em abril, o fluxo cambial ficou em US$ 3,990 bilhões.