Por Carlos González
Investing.com – Após uma queda de cerca de 15% no ano passado, alcançar a paridade entre o euro e o dólar era uma questão de tempo. Esse momento já chegou, e ainda ontem o euro foi negociado abaixo do dólar - como hoje por volta do meio-dia (horário de Brasília).
As razões para esta queda são várias, mas as mais importantes se resumem na inflação elevada, medo de uma recessão, a inatividade do Banco Central Europeu (BCE) na subida das taxas de juros e a crise energética desencadeada pela incerteza do abastecimento de gás russo após a guerra entre a Ucrânia e Rússia.
Assim, durante os últimos meses, o capital que antes estava protegido na moeda comum europeia mudou o seu destino para o dólar ao ver como, entre outros fatores, a elevação das taxas de juros pelo Federal Reserve nos EUA e verificar que no BCE a inação foi o modus operandi nos últimos tempos.
Mas... Qual é o impacto na economia europeia com um euro fraco?
Víctor Alvargonzález, diretor de estratégia e sócio-fundador da consultoria independente Nextep Finance, oferece algumas pistas sobre a fraqueza do euro e suas consequências para as economias da União Europeia:
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1.- A Europa (e não os EUA) paga a conta da guerra
O euro está fraco em primeiro lugar porque o mercado está percebendo que a Europa está pagando a conta das sanções contra a Rússia, não os Estados Unidos. As chances de entrar em recessão são maiores na Europa do que nos EUA. E de qualquer forma, se ambos entrarem em recessão, a europeia será mais profunda e duradoura.
Há também uma questão psicológica: a queda do euro tem muito a ver com o fato de que é a Europa que paga o custo das sanções contra a Rússia. A imagem dos alemães sofrendo com aquecimento e racionamento de água quente não diz muito a favor da economia europeia, e as moedas são um termômetro da economia e da força ou fraqueza dos países, neste caso uma zona econômica, a zona do euro , e isso se tornou uma grande confusão ao depender do gás russo para sua transição energética e isso se reflete no preço do euro-dólar.
2.- Importamos inflação
A consequência mais importante é a menos comentada: o impacto inflacionário de um euro fraco. O maior problema da economia europeia e da economia espanhola, em particular, é a inflação. Quando o euro enfraquece, tudo o que compramos no exterior fica mais caro, ou seja, importamos inflação. Especialmente quando a maior parte da inflação europeia se deve ao aumento do custo da energia, alimentos e matérias-primas em geral.
3.- Impacto nos mercados
As consequências para os mercados são óbvias: os mercados de ações com maior probabilidade de retornar à tendência de alta são aqueles em que a inflação cai primeiro. E um euro fraco não ajuda a baixar a inflação, muito pelo contrário.
4.- As funções do BCE acumulam-se
Por outro lado, quanto mais inflação, mais impostos para o Banco Central Europeu, que provavelmente esperava que a recessão facilitasse sua tarefa, já que a recessão reduz o consumo e o investimento e, portanto, “ajuda” a baixar os preços. O euro fraco complica sua tarefa e pode forçá-los a aumentar as taxas mais do que gostariam. Também é fraco porque nos Estados Unidos as taxas de juros são muito mais altas do que na Europa. As taxas de juros são o preço do dinheiro e o dinheiro vai para onde é melhor pago e o BCE está muito atrás do Fed quando se trata de aumentos de taxas.
5.- Um euro fraco… melhora as exportações e o turismo? Sim e não
Argumentar-se-á que um euro fraco ajuda as exportações ou que melhora o valor dos balanços das empresas espanholas ou europeias no exterior. Sendo assim, esses benefícios não são nem remotamente comparáveis aos danos que a inflação está causando à economia europeia neste momento e ao fato de que um euro fraco a torna persistente.
Se não tivéssemos o grave problema inflacionário que temos na Europa e principalmente na Espanha, um euro fraco não seria tão grave, pois ajuda a vender melhor no exterior, pois nossos produtos são mais competitivos em preço quando nossa moeda está desvalorizada. E o mesmo pode ser dito do turismo.