Por Geoffrey Smith
Investing.com – A libra esterlina atingiu uma nova mínima contra o dólar, e os preços dos títulos do governo britânico recuaram diante do temor dos mercados em relação ao custo cada vez maior de fazer o país atravessar a crise de energia no próximo inverno.
A libra testou 1,13 frente à moeda americana, nível que não era visto desde 1985, antes de se recuperar durante a sessão, enquanto a taxa do título de 10 anos subiu 6 pontos-base (pb), atingindo uma nova máxima de 11 anos de 3,35%, após o governo revelar suas últimas medidas para conter a fatura de energia para as empresas, o que os analistas dizem que pode custar entre 25 e 40 bilhões de libras. Truss já havia sido forçada a anunciar um pacote de alívio similar para as famílias, o qual deve custar mais 100 bilhões de libras.
As empresas alertaram que, sem o suporte do governo, uma onda de fechamentos seria inevitável, devido à disparada das contas de luz neste inverno. Shevaun Haviland, diretora-geral das Câmaras de Comércio Britânicas, declarou que o plano representa um “claro passo na direção certa", mas alertou para a limitação do tempo, já que o programa de suporte só durará seis meses, tornando praticamente impossível que as empresas se planejem para o longo prazo.
“Entendemos que há uma série de fatores desconhecidos para o governo daqui para frente, mas, sem uma assistência maior, pouquíssimas empresas farão planos para investir ou crescer”, afirmou Haviland em um comunicado.
O pacote para diminuir o sofrimento das empresas veio no mesmo dia em que novos dados mostraram uma alta inesperada nos empréstimos governamentais em agosto, devido em grande parte ao aumento do serviço da dívida indexada à inflação.
Os juros da dívida do governo central a pagar eram de 8,2 bilhões de libras no mês passado, 1,5 bilhão a mais do que no ano passado, número mais alto para agosto na série histórica iniciada em abril de 1997, afirmou a agência nacional de estatísticas, apontando para a forte alta dos pagamentos de juros em gilts indexados à inflação.
Assim como a maioria das economias desenvolvidas, o Reino Unido se endividou bastante para superar a crise da Covid-19, quando houve um colapso na arrecadação, e os gastos para respaldar a economia explodiram. O déficit orçamentário vinha caindo no último ano com a retirada de tais medidas de suporte e a reabertura da economia, mas a carga de 2,5 trilhões de dívida pública, correspondente a 96,6% do Produto Interno Bruto, ainda estava quase 2% acima da registrada há um ano.
O custo do serviço da dívida deve consumir cada vez mais receita governamental, se a inflação continuar subindo, como prevê o Banco da Inglaterra (e maioria do setor privado). Isso porque um quarto da dívida pública do Reino Unido é financiada por títulos que pagam juros de acordo com a taxa de inflação.
Os custos dos empréstimos do governo devem continuar sob pressão se, como se espera, o Banco da Inglaterra elevar novamente os juros em sua próxima reunião de política monetária na quinta-feira. A expectativa dos analistas é que o BC eleve a taxa de refinanciamento em 50 pontos-base. O banco também sinalizou que deseja começar a enxugar seu portfólio de Gilts acumulados durante anos de “flexibilização quantitativa”, realizando vendas líquidas de 10 bilhões de libras por trimestre. Com o BoE se juntando à lista de vendedores líquidos de Gilts, o mais provável é que a pressão de alta das taxas se intensifique ainda mais.