Eduardo Davis.
Brasília, 7 set (EFE).- O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
seu colega da França, Nicolas Sarkozy, selaram hoje uma aliança
militar nas áreas naval e aeronáutica que fornecerá tecnologia à
indústria brasileira e tem como foco o mercado da América Latina.
Os acordos de Defesa assinados hoje por ocasião da visita do
governante francês estipulam as bases para a construção de cinco
submarinos, um deles de propulsão nuclear, e 50 helicópteros do
modelo EC-725, da empresa Eurocopter, filial do grupo europeu EADS,
que serão adquiridos em sua totalidade pelo Brasil.
Segundo os convênios, os navios e helicópteros serão construídos
no Brasil - que obterá toda a tecnologia, exceto a nuclear - e as
fábricas que serão erguidas com esse fim serão responsáveis pelas
possíveis e futuras vendas a outros países latino-americanos.
Toda essa operação, que será cumprida em várias etapas até 2021,
custará ao Brasil US$ 12,317 bilhões, dos quais cerca de US$ 9
bilhões serão destinados à compra dos equipamentos militares.
Além disso, durante o encontro entre Lula e Sarkozy, o Brasil
anunciou sua decisão de iniciar negociações para a compra de 36
aviões de combate Rafale, da empresa francesa Dassault Aviation.
Em entrevista coletiva conjunta, Lula não informou se isso
significa o anúncio final de uma licitação na qual também concorrem
a sueca Saab, com os caças Gripen, e a americana Boeing, com o F-18
Super Hornet.
"É somente uma decisão de iniciar negociações", disse Lula, que,
no entanto, deu sinais mais claros depois ao apontar que Brasil e
França não estão negociando uma simples associação comercial, mas
pretendem "criar, construir e vender muito juntos".
O ministro das Relações Exteriores Celso Amorim disse que as
negociações com a Dassault não se referem a "uma mera compra",
porque a França ofereceu "a possibilidade de que os caças sejam
fabricados no Brasil", para vendê-los inclusive a outros países da
América Latina.
Também indicou que "o principal atrativo da oferta francesa é a
transferência real de tecnologia", o que não representa somente "o
acesso ao conhecimento, mas também o acesso livre a este tipo de
operação comercial".
Já Sarkozy anunciou que a França comprará dez unidades do avião
de transporte militar KC-390, que será desenvolvido no Brasil pela
Embraer e a Força Aérea Brasileira (FAB).
O presidente francês justificou essa operação com a necessidade
da França de começar a renovar sua frota de Hércules C-130
fabricados pelos Estados Unidos, e disse ainda que seu país ofereceu
cooperar com o Brasil no projeto.
Sarkozy afirmou que o Brasil "é um parceiro obrigatório", e
ressaltou que a França está convencida de que, em conjunto, os dois
países podem "construir uma grande indústria aeronáutica
comprometida com a segurança mundial".
Essa convicção ficou evidente no comunicado no qual os dois
governantes anunciaram sua "decisão" de transformar seus países em
"parceiros estratégicos também no domínio aeronáutico", área na qual
"possuem vantagens importantes".
Durante seu encontro, Lula e Sarkozy também analisaram a Cúpula
do Grupo dos Vinte (G20, que reúne os países ricos e principais
emergentes) que será realizada em Pittsburg (EUA) no fim deste mês,
e reiteraram sua posição no sentido de que os organismos financeiros
internacionais devem ser renovados, a fim de dar mais presença, voz
e voto às economias emergentes.
Após a reunião com Lula, Sarkozy tinha previsto fazer uma visita
à Embaixada francesa em Brasília e retornar a Paris.
O governante francês, que chegou à capital brasileira na noite
deste domingo, assistiu hoje junto com Lula ao desfile Dia da
Independência, que pela primeira vez contou com a participação de
soldados e aviões de acrobacia franceses. EFE