"O boom acabou": venezuelanos lamentam fim do breve impulso da dolarização

Publicado 01.09.2023, 10:53
© Reuters. Cafeteria em Caracas
25/08/2022
REUTERS/Leonardo Fernandez Viloria

Por Mayela Armas

CARACAS (Reuters) - Em 2020, quando a economia venezuelana dava sinais de recuperação, Enrique Perrella achou que era hora de abrir uma cafeteria no leste de Caracas.

Mas, em janeiro deste ano, diante do aumento do aluguel, dos impostos e das restrições financeiras, ele fechou o estabelecimento.

"O boom acabou", disse Perrella. "Não há proteção para os investimentos."

Depois de uma breve recuperação graças à dolarização de fato, a economia da Venezuela está novamente sendo vítima da inflação alta, dos salários atrasados e da diminuição das compras e da produção de bens, dizem empresários e analistas.

O governo de Nicolas Maduro relaxou os controles monetários em 2019, permitindo mais transações em dólares, apesar das sanções dos Estados Unidos. A medida levou a uma leve recuperação em 2021 e 2022 após oito anos de colapso econômico e a migração de cerca de 7,3 milhões de venezuelanos.

Maduro saudou o crescimento econômico de 15% no ano passado e disse em agosto que a expansão continuava.

No entanto, comerciantes e analistas dizem que o aumento da dolarização se mostrou insuficiente diante do crédito limitado, da desvalorização da moeda local, dos impostos mais altos e dos gastos públicos limitados em meio à redução da receita do petróleo e do aumento das contas de serviços públicos.

A atividade econômica diminuiu 7% no primeiro semestre de 2023 em comparação com o mesmo período do ano anterior, de acordo com o Observatório Financeiro Venezuelano, enquanto a inflação atingiu 398% em relação ao ano anterior em julho, segundo o banco central.

SEM CAPACIDADE DE COMPRA

Outras empresas que sobreviveram disseram estar cortando preços, salários e margens de lucro para se manterem em funcionamento.

"Para manter as operações, tivemos que cortar salários e trabalhar menos dias por semana", disse o proprietário de uma pequena fábrica de alimentos na cidade industrial central de Valência, que pediu para não ser identificado. "Não há capacidade de compra."

A produção industrial caiu 7,6% no primeiro semestre do ano, em comparação com o mesmo período de 2022, de acordo com a associação de fabricantes Conindustria. As vendas comerciais caíram 9% no mesmo período, informou a empresa local de análise Ecoanalitica.

O banco central, que não divulga os números do PIB desde 2019, não respondeu a pedidos de comentários.

"No primeiro semestre de 2022, vimos um crescimento facilitado por uma redução nos controles e maior uso do dólar, mas depois isso desacelerou", disse Jesus Palacios, da Ecoanalitica. "Problemas econômicos estruturais, como crédito escasso, ausência de recuperação nos serviços públicos, entre outros, não foram resolvidos."

Varejistas da capital Caracas estão oferecendo descontos para atrair clientes, mas comerciantes dizem que muitas pessoas ainda não têm condições de fazer compras devido aos baixos salários.

"Anos atrás eu me sentia milionária, hoje meu salário não é suficiente", disse Migdalia Uviedo, 58 anos, professora aposentada que agora trabalha como professora particular e costureira. "Para sobreviver, procuro alimentos mais baratos."

(Por Mayela Armas, Keren Torres e Tibisay Romero; reportagem adicional de Johnny Carvajal)

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