Real começa 2º tri na lanterna global por temores sobre contas públicas

Publicado 01.04.2021, 17:46
Atualizado 01.04.2021, 17:50
© Reuters. Cédulas de reais

Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em firme alta contra o real nesta quinta-feira, numa gangorra depois da forte queda da véspera, com operadores de mercado embutindo nos preços profunda preocupação com os rumos do Orçamento e a posição do ministro da Economia nesse embaraço.

O dólar à vista subiu 1,49%, a 5,7143 reais. Com isso, reduziu a queda acumulada na semana para 0,46%.

O real teve o pior desempenho entre as principais moedas globais nesta sessão.

A péssima repercussão ao Orçamento tido como "fictício" e aprovado pelo Congresso na semana passada esquentou ainda mais o clima entre o ministro Paulo Guedes e o Legislativo, o que tem gerado dúvidas sobre a capacidade da articulação política do governo e de Guedes de conseguirem um ajuste no texto orçamentário.

O relator do Orçamento, senador Márcio Bittar (MDB-AC), concordou em cortar em 10 bilhões de reais as emendas parlamentares, mas o time de Guedes ainda vê a medida como insuficiente.

No mercado, o entendimento é de que as tensões entre Guedes e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), estão numa crescente, num momento em que agentes financeiros ainda discutem impactos da recente reforma ministerial feita de forma inesperada pelo presidente Jair Bolsonaro.

"O Paulo Guedes e equipe estão brigando para conseguirem aprovar um Orçamento realista, mas a impressão que dá é de que você ou empata ou perde", disse um gestor, avaliando que o país ganhou mais um elemento com que se preocupar, porque, segundo ele, até pouco tempo atrás não havia problemas na frente orçamentária.

A percepção de que o risco fiscal aumentou é compartilhada pelo Santander Brasil (SA:SANB11), que vê o Brasil em "teste mais difícil" para a política econômica desde a aprovação do teto de gastos, em 2016. "Vemos riscos de execução crescentes para o processo de consolidação fiscal", afirmou a economista-chefe do banco, Ana Paula Vescovi.

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Para ela, "nada é mais emblemático" do risco fiscal do que a "oscilação frenética" da taxa de câmbio --que já variou neste ano entre cerca de 5,12 reais e 5,87 reais, contra taxa em torno de 4,30 reais antes da pandemia-- e o aumento do prêmio na taxa de juros nominal de dez anos, que saiu de 2% no começo de 2020 para em torno de 4,5% recentemente --próximo ao pico visto na perda do grau de investimento, em 2015.

Pelos cálculos de Vescovi, se estivesse acompanhando seus pares, o real estaria perto de 4,50 por dólar. Com o prêmio de risco embutido na taxa de câmbio e os cenários para os "drivers" da moeda, a projeção para o dólar ao fim de 2021 foi elevada de 5,25 reais para 5,55 reais.

O Goldman Sachs vê o dólar em 5,00 reais em 12 meses. Caesar Maasry, chefe de estratégia de mercados emergentes do grupo de pesquisas do banco, reconhece os riscos fiscais que afligem os mercados, mas diz que, do ponto de vista externo, o fiel da balança para a taxa de câmbio atualmente é a perspectiva de retomada econômica.

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Maasry prevê aceleração da vacinação no Brasil no segundo semestre, o que virá acompanhado de reabertura mais forte da economia. "Essa recuperação vai vir e vai pegar o real subvalorizado. Isso vai levar a moeda a superar seus pares emergentes", disse.

Segundo pesquisa da Reuters, o dólar vai ficar em 5,31 reais em 12 meses.

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