(Texto atualizado com nova nota da empresa espanhola Acciona)
Por Eduardo Simões e Leonardo Benassatto
SÃO PAULO (Reuters) -Parte da pista da Marginal Tietê desabou nesta terça-feira após um acidente em obras de perfuração do túnel da futura Linha 6-Laranja do metrô de São Paulo, levando à interdição da via no sentido da rodovia Ayrton Senna, sem deixar vítimas, segundo o Corpo de Bombeiros, da Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado e da concessionária responsável pela obra.
A empresa espanhola Acciona, responsável pelas obras e pela futura operação da linha, disse em nota que o acidente foi causado pelo rompimento de uma coletora de esgoto. A empresa, no entanto, não detalhou o que teria provocado esse rompimento.
"A Linha Uni e a Acciona, responsáveis pelas obras da Linha 6-Laranja do metrô, informam que, hoje pela manhã, ocorreu um rompimento de uma coletora de esgoto próximo ao VSE Aquinos (Poço de Ventilação e Saída de Emergência)", disse a empresa.
"O incidente não causou nenhuma vítima. Equipes da Linha Uni, da Acciona e demais técnicos estão no local para apurar os fatos. Todas as medidas de contingência já foram tomadas. Parte do asfalto da Marginal Tietê cedeu e, por questão de segurança, a pista está parcialmente interditada."
Já à noite, a Linha Uni e a Acciona afirmaram em outra nota que "com as informações disponíveis neste momento, o incidente ocorrido esta manhã na Marginal Tietê não está relacionado diretamente ao desenvolvimento das obras da Linha 6-Laranja. Trata-se de um rompimento de um interceptor de esgoto".
Pela nota não ficou claro como se chegou a essa conclusão.
Em entrevista coletiva no local, o governador de São Paulo, João Doria, disse que uma coletora de esgoto da Sabesp (SA:SBSP3) no local foi atingida, o que provocou o acidente.
"A engenharia da Acciona identificou que o problema foi de uma coletora, eles atingiram uma coletora da Sabesp", disse Doria, que disse ter confiança na empresa responsável pelas obras.
Ao lado do governador, o presidente da Acciona no Brasil, André De Angelo, negou que a máquina que perfura o túnel, conhecida como tatuzão, tenha se chocado com a rede de esgoto.
"Não houve nenhum choque entre o tatuzão com as redes coletoras ou adutoras. Não houve nenhum choque", assegurou.
"Estamos buscando as causas agora. Provavelmente tem a ver com as chuvas, com erosões, porque a tuneladora estava a três metros dessa coletora, então não houve nenhum choque", insistiu.
Em entrevista no local antes de Doria, o secretário estadual de Transportes Metropolitanos, Paulo Galli, também negou que o tatuzão tenha atingido a coletora. Ele disse que a escavação pode ter tirado sustentação da galeria, mas disse que as investigações é que determinarão as causas do acidente.
"Não houve choque do tatuzão com a galeria, porque ele passava por baixo da galeria... Se eu começo a cavar o solo, aí perde a sustentação, aí a galeria toda vem abaixo", disse Galli, que disse não ser ainda possível estimar possíveis atrasos nas obras da Linha 6-Laranja, com entrega prevista para 2025.
"Obviamente é uma obra de impacto. Eu não consigo dizer agora quanto tempo vai levar para consertar, mas a gente quer pressionar a construtora para que seja mantido o prazo. Agora, para isso a gente vai ter que solucionar", disse.
O Corpo de Bombeiro foi acionados às 8h40 desta terça por causa do acidente, mas segundo o porta-voz da corporação, todos os trabalhadores conseguiram deixar a obra antes que inundasse. Doria disse que apenas quatro funcionários foram atendidos por terem tido contato com água do esgoto, mas já foram liberados.
Inicialmente, o acidente provocou a interdição total das pistas da Marginal Tietê no sentido Ayrton Senna, mas pouco antes das 12h a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) da capital paulista disse que duas pistas haviam sido liberadas. A CET pediu que os motoristas evitem a região.
A Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo da Capital anunciou a abertura de um inquérito civil para apurar as causas do acidente, bem como a extensão dos danos urbanísticos e ambientais causados.
O Ministério Público paulista pediu informações ao consórcio contratado pelo governo. Segundo o comunicado, a Defesa Civil também foi instada a informar sobre a existência de risco nos imóveis residenciais e empresariais existentes no entorno e a Sabesp e a CET deverão prestar esclarecimentos, respectivamente, sobre a rede de esgoto e ordenação do trânsito na região.
ACESSO A RODOVIAS E AEROPORTO
A Marginal Tietê é uma das principais vias expressas da cidade de São Paulo e liga, por exemplo, a capital paulista às rodovias Presidente Dutra, Ayrton Senna e ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, o mais movimentado do país.
A futura Linha 6-Laranja do metrô ligará o bairro de Brasilândia, na zona norte da cidade de São Paulo, até a estação São Joaquim, da Linha 1-Azul do metrô, no centro da cidade.
Apontada como maior obra de infraestrutura em execução na América Latina pelo governo paulista, a Linha 6-Laranja do metrô paulista terá 15 estações e 15 quilômetros de extensão.
A Acciona assumiu o projeto em outubro de 2020 --antes, ficara anos parado devido a um imbróglio envolvendo o consórcio anterior, que chegou a ser integrado por Odebrecht TransPort (OTP) Queiroz Galvão e UTC.
Em 2007, um desabamento na construção da estação Pinheiros, na Linha 4-Amarela do metrô paulista, também uma parceria público-privada cujas obras foram de responsabilidade privada, deixou sete mortos.
(Reportagem adicional de Letícia Fucuchima e Ricardo Brito; edição de Maria Pia Palermo e Alexandre Caverni)