Por Anna-Catherine Brigida
BUENOS AIRES (Reuters) - A disputa para a Presidência da Argentina está colocando o acesso ao aborto e os direitos das mulheres no centro das atenções, provocando um debate acirrado em um país que tem sido pioneiro na expansão dos direitos reprodutivos na América Latina.
O favorito para vencer o pleito, o economista de extrema-direita Javier Milei, se opõe ao aborto e quer realizar um referendo sobre a revogação da legalização do procedimento antes da 14ª semana de gravidez, aprovada em 2020. Ele também quer fechar o Ministério das Mulheres, Gêneros e Diversidade, que chamou de um tipo de "ação afirmativa" que é degradante para as mulheres.
Seus concorrentes mais próximos são o ministro da Economia, Sergio Massa, e a ex-ministra da Segurança Patricia Bullrich, a candidata feminina de maior destaque. Ela promete manter inalteradas as leis sobre aborto, mas disse que também vai extinguir o Ministério das Mulheres.
A posição de Milei tem causado temores sobre risco de retrocesso nas conquistas das mulheres nos últimos anos, mas tem o ajudado a ganhar votos entre jovens argentinos que se sentem desprivilegiados, bem como entre eleitoras conservadoras.
"O fenômeno Milei não é apenas um movimento de ultradireita. É uma reação patriarcal contra todos os avanços que as mulheres tiveram na Argentina", disse a candidata presidencial Myriam Bregman, que tem menos de 5% das intenções de voto, à Reuters.
Milei, o surpreendente vencedor de uma primária aberta em agosto, está se beneficiando do apoio de eleitores irritados com a inflação de 124%, uma dolorosa crise de custo de vida e o aumento da pobreza. Ele falou em travar uma "batalha cultural" contra o socialismo e o feminismo.
Os pontos de vista estridentes de Milei - e de seus apoiadores - têm irritado seus oponentes, com mulheres protestando em Buenos Aires no final de setembro para marcar o Dia Internacional do Aborto Seguro.
Muitas usaram verde e acenaram com lenços verdes, um eco de protestos anteriores que contribuíram para a mudança da lei de 2020 e que às vezes são conhecidas como a "onda verde"
O apoio de Milei é mais de 60% masculino, de acordo com uma pesquisa da Taquion Research. Ainda assim, ele conquistou algumas eleitoras e tem mulheres em sua equipe, incluindo sua irmã e conselheira de campanha Karina e a companheira de chapa Victoria Villarruel.
Os críticos de Milei o acusam de ignorar a existência de violência e discriminação de gênero na Argentina, onde no ano passado uma mulher foi assassinada a cada 35 horas e as mulheres ganham 27% menos que os homens.
A Argentina lidera a região em políticas progressistas sobre igualdade de gênero e direitos LGBT há anos, tornando-se o primeiro país latino-americano a implementar uma lei de cotas de gênero na política em 1991 e a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo em 2010.