Por Lisandra Paraguassu e Adriano Machado
BRASÍLIA (Reuters) - Depois das invasões nas sedes dos Três Poderes no último domingo, o governo do Distrito Federal apareceu como principal culpado pelas falhas de segurança que permitiram os atos de vandalismo, mas não faltam dedos apontados para a segurança do próprio Palácio do Planalto, feita pelo Exército e coordenada pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Fontes ligadas ao governo ouvidas pela Reuters demonstram insatisfação com a resposta do Batalhão da Guarda Presidencial, vinculado ao Comando Militar do Planalto, que, ao contrário de outras manifestações, não fez a segurança prévia do prédio e apareceu apenas quando o Palácio já havia sido invadido há bastante tempo.
"Claramente teve uma falha aí, um erro de comando, se proposital ou não vamos ter que descobrir", disse à Reuters uma fonte palaciana, acrescentando que o general da reserva Marcos Gonçalves Dias, ministro do GSI, está apurando.
O BGP, composto de cinco companhias --sendo duas de choque - e cerca de mil homens-- fica lotado exatamente atrás no Palácio do Planalto. Em outras ocasiões em que foi avaliado que havia qualquer nível de risco ao Palácio do Planalto, o Batalhão foi imediatamente chamado e o Palácio, cercado pelos soldados. Isso não aconteceu no domingo.
Neste domingo, como a Reuters pôde acompanhar, no momento em que os golpistas invadiram o Planalto, havia no local apenas alguns homens do GSI, incapazes de conter a multidão que quebrou vidros e entrou pelo térreo e pela rampa, direto para o segundo andar.
Com apenas quatro homens do GSI, o general Dias chegou a impedir, aos gritos, que um grupo continuasse tentando invadir o gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva --que, por ser blindado, sobreviveu intacto à depredação. Pouco depois, a tropa de choque do BGP finalmente chegou ao Planalto --ocupado já há mais de uma hora-- e começou a retirar os invasores.
O fato de o Batalhão não estar já no Planalto, apesar dos avisos, conhecidos pelo governo federal, de que bolsonaristas preparavam-se para invadir a Esplanada dos Ministérios e pretendiam ocupar as sedes dos Três Poderes, foi motivo de duras críticas internas e pedidos de explicações ao general Dias e ao ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, que não se manifestou oficialmente até o momento.
Em uma reunião na segunda-feira entre Lula, Múcio e os comandantes das três Forças, o presidente deixou claro aos quatro sua insatisfação com a demora dos militares em reagir, de acordo com a fonte ouvida pela Reuters. A resposta foi que se esperava que a Polícia Militar estivesse a cargo e evitasse a invasão da Esplanada.
Já na segunda, seguindo a ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, os militares ajudaram a desmanchar o acampamento na frente do QG em Brasília e auxiliaram a PM na detenção dos acampados.
Algumas horas depois, em reunião com os governadores e os presidentes do Congresso e do STF, Lula subiu o tom e criticou a falta de resposta anterior das Forças Armadas aos acampamentos de bolsonaristas nas portas de quartéis que pediam uma intervenção ilegal dos militares contra a sua eleição.
"As pessoas (estavam) livremente reivindicando o golpe na frente dos quartéis, e não foi feito nada por nenhum quartel, nenhum general se moveu para dizer que não pode acontecer isso, é proibido pedir isso", afirmou Lula, referindo-se à atitude antes da ordem de Moraes.
"Dava a impressão de que tinha gente que gostava quando o povo estava clamando pelo golpe", acrescentou.
Lula criticou também integrantes do próprio Batalhão da Guarda Presidencial: "Soldado do Exército brasileiro conversando com as pessoas (invasores) como se fossem aliados", reclamou Lula, citando imagens do ataque ao Palácio do Planalto.
Vários erros
O discurso oficial no Planalto é, ainda, que a maior parte da culpa cabe ao agora governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), que liberou a entrada dos manifestantes golpistas na Esplanada dos Três Poderes, rompendo um acordo que havia sido feito com o Ministério da Justiça e Segurança Pública. E também o então secretário de Segurança do DF, demitido no mesmo dia, Anderson Torres --ex-ministro de Bolsonaro-- acusado de insuflar no passado e agir de forma a favorecer os golpistas.
Há, no entanto, o reconhecimento de que as investigações terão que incluir falhas dentro do próprio governo federal.
"Quando um avião cai não é apenas uma causa, são vários erros cometidos. E esse desastre não se explica só com um erro. São vários que terão que ser analisados para que nunca mais se repita", disse o ministro da Casa Civil, Rui Costa. "Temos que revisitar, são muitos erros cometidos, um somatório que gerou essa situação. Temos que descontaminar as instituições e apurar responsabilidades."
Em entrevista à imprensa internacional nesta terça, o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, ressaltou mais uma vez que a responsabilidade do caso seria do governo do DF, por negligência, mas admitiu que o governo federal vai analisar erros internos.
"O presidente Lula já determinou aos ministros da Justiça, Defesa, ao GSI e todos os órgãos federais que também contribuam para apuração se também eventualmente existiu falha ou atitude inadequada de qualquer servidor público, federal ou militar, durante o dia 8 de janeiro", disse Padilha.
"Temos várias instituições que foram contaminadas pelo ódio bolsonarista, pela prática golpista da extrema-direita. Eventualmente indivíduos que fazem parte de estrutura civis e militares podem estar contaminados. Os ministros são responsáveis por apurar se houve erro individual", acrescentou.