Por Eduardo Simões
(Reuters) -O ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno disse nesta terça-feira, em depoimento à CPMI do 8 de janeiro, ser uma "fantasia" afirmar que o ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mauro Cid, participava de reuniões do então presidente, mas foi confrontado com a imagem de um encontro que mostrava Cid presente em uma reunião entre Bolsonaro, Heleno e chefes militares.
Cid firmou neste mês acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal, que foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo informações da imprensa, o ex-ajudante de ordens disse que Bolsonaro levou aos então comandantes das forças uma proposta de golpe de Estado após ser derrotado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022.
"O tenente-coronel Mauro Cid não participava de reuniões, ele era ajudante de ordens do presidente da República. Não existe essa figura do ajudante de ordens sentar numa reunião com os comandantes de forças e participar da reunião. Isso é fantasia", disse Heleno à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) no início de seu depoimento.
O ex-chefe do GSI, que também é general da reserva, também disse que não era um ministro militar, mas sim um militar que ocupava um ministério, e por isso não era chamado por Bolsonaro quando o presidente se reunia com chefes militares.
Posteriormente, o deputado Rogério Correia (PT-MG) relembrou a fala de Heleno e mostrou uma imagem de uma reunião de 2019 em que Heleno e Bolsonaro se reuniram com chefes militares, e com Cid ao fundo da imagem acompanhando o encontro. O deputado confrontou Heleno com a imagem e indagou se ele havia mentido.
"De jeito nenhum. Eu era convocado quando o presidente precisava de um órgão de inteligência participar da reunião, ele me convocava", disse Heleno, sendo em seguida questionado por Correia sobre a presença de Cid no encontro.
O general respondeu que a "imagem fala por mil palavras", argumentando que Cid estava fora da mesa.
"O senhor acha que ele não está escutando?", indagou Correia, provocando uma resposta irritada de Heleno. "Ele não é surdo! É lógico que ele está escutando! Mas ele não dá aparte, ele não participa, ele não tem atuação nenhuma", disse o general.
No início de seu depoimento à CPMI, Heleno disse não ter conhecimento da suposta reunião que teria sido relatada por Cid em sua delação, e repetiu por mais de uma vez que Bolsonaro afirmava que atuaria "dentro das quatro linhas" da Constituição.
"O presidente da República disse várias vezes na minha presença que jogaria dentro das quatro linhas", disse. "Não era minha missão convencer o presidente a sair das quatro linhas."
O ex-chefe do GSI também negou ter conhecimento da existência da chamada "minuta do golpe", documento apreendido na casa do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro Anderson Torres e que era o rascunho de um decreto para uma intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de forma a anular as eleições.
"Nunca nem ouvi falar", disse ao ser indagado se conhecia o documento. "Eu não tinha tempo no GSI de ficar zanzando por aí procurando assunto."
Heleno reclamou da linha de perguntas de parlamentares da base governista e disse que é preciso cuidado ao se fazer acusações. "As pessoas aqui estão querendo me comprometer. Vão perder tempo", afirmou.
ACAMPAMENTO
No depoimento, o ex-chefe do GSI afirmou também que não considerava o acampamento montado por bolsonaristas em frente ao quartel-general do Exército após a derrota do então presidente Jair Bolsonaro nas eleições do ano passado uma ameaça à segurança.
Segundo as investigações, foram desse acampamento que saíram vândalos bolsonaristas que invadiram e depredaram o Palácio do Planalto e os prédios do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 8 de janeiro defendendo um golpe contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No depoimento, Heleno negou que tenha comparecido ao local e afirmou que considerava o acampamento uma "manifestação política pacífica".
"Nunca considerei o acampamento algo que interessasse à segurança institucional", disse o general da reserva, que foi o chefe do GSI durante os quatro anos de governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O ex-ministro também disse que jamais tratou sobre política com seus subordinados no GSI e negou ter deixado um "DNA bolsonarista" no órgão.
"O único ser político do GSI era eu mesmo, os demais eram servidores do Estado brasileiro", disse.
IRRITAÇÃO E PALAVRÕES
Heleno foi indagado pela relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), sobre um episódio nos últimos dias do governo Bolsonaro em que, ao entrar no carro para deixar o Palácio do Planalto, respondeu "não" ao ser perguntado por um apoiador do então presidente se "o bandido vai subir a rampa". O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é chamado de "bandido" por bolsonaristas.
"Eu até hoje continuo achando que bandido não sobe a rampa", respondeu Heleno, sem elaborar.
Ao final das perguntas da relatora, Heleno mostrou irritação e soltou palavrões quando Eliziane lhe perguntou se ele considerava que a eleição presidencial de 2022 havia sido fraudada.
"Já tem o resultado das eleições, já tem o novo presidente da República, não posso dizer que foram fraudadas", disse, antes de ser interrompido pela senadora, que afirmou "então o senhor mudou de ideia" e encerrou os questionamentos, provocando irritação do general.
"Ela fala as coisas que ela acha que estão na minha cabeça!", disparou Heleno, visivelmente irritado e falando palavrões.
(Por Eduardo Simões, em São PauloEdição de Pedro Fonseca)