Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O médico Diego Ralf Bomfim, irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e cunhado do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), foi morto a tiros junto com dois colegas de profissão na madrugada desta quinta-feira em um quiosque na orla da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, em um crime que a família e autoridades disseram ter indícios de execução.
De acordo com a polícia, um quarto médico também ficou ferido no atentado, no qual atiradores desceram de um carro disparando e fugiram na sequência sem levar quaisquer pertences das vítimas. Os médicos estavam na cidade para participar de um congresso de ortopedia.
Além de Diego Bomfim, também foram mortos os médicos Marcos de Andrade Corsato e Perseu Ribeiro Almeida.
Em nota, a deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS), que se manifestou em nome de Sâmia e Glauber, que são casados, disse que a colega de bancada estava "devastada" com o assassinato do irmão e que "tudo indica que se tratou de uma execução".
"Exigimos imediata e profunda investigação para descobrir as motivações do crime, assim como a identificação e prisão dos executores", afirma a nota. "Já pedimos ao ministro da Justiça, Flávio Dino, o acompanhamento do caso pela Polícia Federal e estamos formalizando a solicitação com o ministério."
De acordo com autoridades de segurança do Rio, imagens de segurança serão analisadas pela Delegacia de Homicídios da capital fluminense e depoimentos serão colhidos.
"No local, os agentes encontraram quatro vítimas de disparos de arma de fogo sendo socorridas por militares do Corpo de Bombeiros. Três delas não resistiram aos ferimentos e morreram no local do fato. A outra foi socorrida ainda com vida até o Hospital Municipal Lourenço Jorge. Agentes chegaram a fazer buscas para encontrar o paradeiro dos acusados, mas não foram encontrados", disse a Polícia Militar do Rio de Janeiro.
Segundo um investigador que atua no caso, uma das linhas de trabalho aponta que um dos médicos executados pode ter sido confundido pelos assassinos com um miliciano. O homem, que teria deixado a prisão recentemente e frequentaria o mesmo quiosque, seria o verdadeiro alvo do ataque.
"Tudo pode ter sido uma grande confusão", disse a fonte, sob sigilo, acrescentando que a polícia já teria localizado dentro de uma favela um carro que poderia ter sido utilizado no crime.
COLABORAÇÃO DA PF
Em sua conta na plataforma X, antigo Twitter, o ministro Dino disse que conversou sobre o crime com o governador fluminense, Cláudio Castro (PL), e que o secretário-executivo do ministério, Ricardo Cappelli, iria ao Rio para se reunir com a direção da Polícia Federal e com representantes do governo do Estado. Dino disse ainda que tanto a Polícia Civil fluminense quanto a PF estão realizando diligências para investigar o crime.
Depois, em coletiva de imprensa na Bahia, Dino afirmou que a Polícia Federal já atua nas investigações em parceria com a Polícia Civil do RJ não apenas na área de inteligência, mas também com equipamentos, balística e perícia. Segundo ele, a proximidade das vítimas com dois deputados federais justifica a parceria com a PF. O ministro disse que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), entrou em contato pessoalmente e solicitou que a Polícia Legislativa também pudesse auxiliar.
"Nesse momento, evidentemente, há uma visão clara de que se cuida de uma execução e não de um crime patrimonial. Pela própria dinâmica dos fatos isso fica bem evidenciado. E há duas ou três linhas de investigação que estão sendo percorridas", disse o ministro a jornalistas.
"Falei há pouco com a nossa equipe que está no Rio de Janeiro e eles estão firmes, junto com Polícia Civil, na convicção de que vão elucidar esse crime porque há indicações já que podem conduzir a configuração da materialidade da autoria do delito", acrescentou Dino.
Ao comentar os problemas de segurança pública no país -- o ministro estava na Bahia, Estado que enfrenta problemas nessa área, para anunciar investimentos em instalações da Polícia Federal -- Dino responsabilizou a política armamentista do governo anterior pelo aumento da violência.
"Nós temos, também, o dever de apontar causas da violência no Brasil. E uma dessas causas, eu disse, reafirmo, sublinho e direi sempre: foi o armamentismo irresponsável praticado no Brasil nos últimos anos. Esse é um dos fatores da violência", afirmou, acrescentando que o governo está tomando medidas para lidar com o problema.
"Mas as ações incluem falar a verdade. Para que o país nunca mais entre nesse beco de trevas do armamentismo, que é uma política errada no planeta Terra, uma política irresponsável. E nós estamos agora corrigindo esse caminho."
Em pronunciamento à imprensa, o secretário de Polícia Civil do Rio, José Renato Torres, afirmou que haverá uma integração entre a polícia estadual e a PF na investigação e prometeu que o crime será rapidamente esclarecido.
"Numa conversa preliminar com ministro da Justiça, com governador, entendemos que precisava haver uma cooperação e integração para dar uma solução mais rápida sobre esse bárbaro crime", disse o secretário.
No mesmo pronunciamento, o delegado da PF José Garrido disse que a corporação federal colaborará com a Polícia Civil e colocou os recursos da PF à disposição das investigações.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou solidariedade aos deputados em publicação na plataforma X e reforçou o envolvimento da PF nas investigações.
"Recebi com grande tristeza e indignação a notícia da execução de Diego Ralf Bomfim, Marcos de Andrade Corsato e Perseu Ribeiro Almeida na orla da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, na madrugada desta quinta-feira", disse Lula.
"Minha solidariedade aos familiares dos médicos e a deputada Sâmia Bomfim e ao deputado Glauber Braga. A Polícia Federal, sob determinação do ministro Flávio Dino, está acompanhando o caso", acrescentou.
Em março de 2018, a vereadora da cidade do Rio de Janeiro Marielle Franco, que era filiada ao PSOL assim como Sâmia e Braga, foi executada na capital fluminense junto com seu motorista, Anderson Gomes, em um ataque a tiros. Marielle tinha o combate às milícias como uma de suas plataformas políticas.
A polícia prendeu o policial militar reformado Ronnie Lessa, apontado como executor do assassinato, e o ex-PM Élcio de Queiroz, que posteriormente confessou em um acordo de delação premiada ter dirigido o carro usado no atentado.
Na delação com a PF, que em fevereiro assumiu as investigações sobre o caso, Queiroz apontou Lessa como executor do crime e também o envolvimento do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, que foi preso pela PF em julho após a delação.
Na ocasião da prisão do ex-bombeiro, Dino disse que as circunstâncias da execução de Marielle e Anderson estavam esclarecidas, mas que as investigações prosseguiriam para determinar quem foi o mandante dos assassinatos.
(Reportagem adicional de Eduardo Simões, em São Paulo)