Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - Governador do Estado mais rico e populoso do Brasil, Tarcísio de Freitas surgiu como uma das primeiras perspectivas para liderar a direita brasileira após seu mentor político, o ex-presidente Jair Bolsonaro, ter se tornado inelegível por oito anos.
Embora o governador de São Paulo e seus assessores mais próximos insistam que ele esteja focado em servir o Estado, alguns dos mais experientes políticos conservadores do Brasil já o consideram um candidato natural à Presidência da República em três anos.
Alimentando a especulação, Tarcísio mostrou seu valor político este mês ao apoiar uma reforma tributária histórica, em uma ruptura acentuada com Bolsonaro, que o impulsionou à proeminência no cenário nacional como ministro da Infraestrutura de seu governo por quatro anos.
As diferenças entre ambos transbordaram em uma reunião um dia antes de uma votação decisiva da reforma no Congresso. Enquanto Tarcísio defendia os méritos da reforma tributária, Bolsonaro o interrompeu para insistir que a aprovação representaria uma vitória inaceitável para o governo do adversário Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo com vídeos do encontro postados nas redes sociais.
Enquanto Tarcísio falava aos parlamentares do partido de Bolsonaro, o PL, dizendo que a direita não podia ficar do lado errado da reforma tributária, Bolsonaro pegou o microfone duas vezes e disse que seu partido não votaria a favor do projeto, para aplausos de seus apoiadores.
Essa posição ajudou a consolidar a imagem do governador como engenheiro e ex-funcionário público tecnocrata, dizem aliados e analistas, evitando o estilo político radical de Bolsonaro. Também ajudou a garantir o apoio de três quartos entre os deputados federais por São Paulo para a reforma, que foi aprovada na Câmara dos Deputados.
"Ele está se consolidando como um político habilidoso e sem ser extremista", disse Marcos Pereira, presidente do Republicanos, o partido de Tarcísio e ligado à igreja evangélica.
Tarcísio, que se manteve afastado de temas muito ligados a Bolsonaro, como armas, ingressou no partido no ano passado antes de sua candidatura a governador, em vez de concorrer pela legenda do próprio Bolsonaro.
Com Bolsonaro acossado por investigações criminais e impedido pela Justiça Eleitoral de concorrer a qualquer cargo eletivo devido a seus ataques ao sistema eleitoral, lideranças conservadoras do Brasil estão apostando no governador de São Paulo. Tanto o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), quanto Ciro Nogueira, ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro, o citaram como uma forte perspectiva para a corrida presidencial de 2026.
“Ele é um candidato forte, porque é mais técnico e equilibrado do que Bolsonaro”, disse o experiente analista e consultor político Antônio Queiroz, citando uma agenda pró-mercado enfatizada por Tarcísio em vez das guerras culturais de direita da Presidência de Bolsonaro.
O gabinete do governador não respondeu a um pedido de entrevista.
ENGENHEIRO DO EXÉRCITO
Ex-capitão do Corpo de Engenheiros do Exército, Tarcísio foi um dos membros mais importantes do governo de Bolsonaro, muitas vezes cruzando o país para eventos como inaugurações de pontes, túneis e outras obras públicas. Assessores destacam sua compreensão sofisticada do sistema rodoviário do Brasil.
Tarcísio ganhou essa experiência dirigindo o Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (DNIT) sob a gestão da presidente petista Dilma Rousseff.
Enquanto Bolsonaro lançou sua campanha política com uma batalha existencial contra o PT, Tarcísio tem buscado uma relação construtiva com o novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao mesmo tempo em que o criticou pela falta de "excelência técnica".
Seus debates de 2022 na corrida para governador contra o candidato do PT, Fernando Haddad, foram um contraste com a troca de ofensas entre Lula e Bolsonaro.
Em entrevista à Rádio Jovem Pan em março, Tarcísio disse que achava que Haddad, agora ministro da Fazenda de Lula e potencial herdeiro político, "está tentando fazer a coisa certa", acrescentando: "Espero que ele acerte".
Ainda assim, ele rapidamente traça um contraste com o PT em sua agenda favorável aos negócios. Seu esforço para privatizar o porto de Santos tem sido bloqueado pelo governo federal. E ele prometeu privatizar a empresa estatal de água e saneamento Sabesp (BVMF:SBSP3), enquanto Lula condenou as recentes privatizações sob o governo de Bolsonaro.
Suas outras prioridades como governador incluem melhorar o transporte público na área metropolitana de São Paulo, cortejar investimentos com parcerias público-privadas e promover uma transformação digital do sistema público de saúde.
Assessores insistem que o governador, de 48 anos, não tem pressa em deixar o governo estadual.
"Ele tem que terminar sua missão em São Paulo com um segundo mandato", disse um assessor próximo, pedindo para não ser identificado porque não estava autorizado a falar sobre os planos do governador. "Ele tem tempo, ele é jovem."
Outro assessor disse que Freitas está de olho em uma candidatura presidencial apenas em 2030.
Queiroz, o analista político, disse que pode ser uma jogada inteligente se Lula terminar este mandato com crescimento econômico robusto e amplo apoio, como fez no último. Mas se Lula tropeçar, acrescentou Queiroz, a pressão aumentará rapidamente sobre Tarcísio para concorrer mais cedo.