Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A inflação oficial ao consumidor brasileiro superou dois dígitos pela primeira vez em 12 anos no mês passado, colocando ainda mais pressão para o Banco Central voltar a subir os juros básicos, mesmo em meio ao cenário de recessão da economia.
Em novembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 10,48 por cento em 12 meses, maior desde 2003 (11,02 por cento), informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira.
O resultado está muito acima do teto da meta do governo, de 4,5 por cento com tolerância de 2 pontos percentuais para mais ou menos. Em outubro, o avanço acumulado havia sido de 9,93 por cento.
Só em novembro, o IPCA saltou 1,01 por cento, após avançar 0,82 por cento em outubro, acima das expectativas. Sob a pressão da alta dos preços de alimentos e de combustíveis, este é o nível mais elevado da inflação desde março (1,32 por cento) e o maior patamar para o mês em 13 anos (3,02 por cento).
"É um ano de pressão de custos de várias causas. Tivemos aumento forte do câmbio, da gasolina e do diesel. Quando se ouve falar em inflação alta, os formadores de preço acabam reajustando, mas ainda estamos longe ainda do que se viu na época da hiperinflação", disse a economista do IBGE Eulina Nunes dos Santos.
Pesquisa da Reuters indicava alta mensal de 0,95 por cento em novembro, chegando em 12 meses a 10,41 por cento.
ALIMENTOS E COMBUSTÍVEIS
O grupo Alimentação e Bebidas foi o que mais subiu em novembro, com alta de 1,83 por cento, tendo o maior impacto, de 0,46 ponto percentual.
"O câmbio causa uma avalanche de aumentos de preços... presente nos adubos, fertilizantes e plantações. Há ainda o efeito das chuvas no sul do país e o frete mais caro com aumento do diesel, gasolina e pedágios", explicou Eulina.
Os preços dos combustíveis, pelo segundo mês seguido, exerceram o maior peso individual depois de registrarem alta de 4,16 por cento em novembro, com impacto de 0,21 ponto percentual.
Somente a gasolina subiu 3,21 por cento no mês, e o etanol, 9,31 por cento, em decorrência do reajuste de 6 por cento nos preços das refinarias em vigor desde o dia 30 de setembro.
A inflação também continuou alta nos últimos meses após a disparada do dólar para perto de 4 reais. A alta dos preços levou o BC a endurecer o discurso e sinalizar possível aumento da Selic já em janeiro, após alguns meses de estabilidade da taxa básica de juros em 14,25 por cento.
"Esses números colocam lenha na fogueira e elevam a necessidade de novo ciclo contracionista da política monetária. Não descarto essa possibilidade diante da alteração na comunicação do BC", disse a economista do CM Capital Markets Camila Abdelmalack.
Dentro do cenário de baixíssima confiança na economia, alimentado também pela crise política e ameaça concreta de impeachment da presidente Dilma Rousseff, as expectativas de inflação não param de piorar.
Segundo pesquisa Focus do próprio BC, que ouve semanalmente uma centena de economistas, a projeção é de alta do IPCA de 6,70 por cento em 2016 e de 10,44 por cento em 2015. Em ambos os casos, a inflação estouraria o teto da meta.
"Essa inflação corrente já está precificada para 2016, mas as correções podem estar atreladas ao movimento na taxa de câmbio e expectativa de reajustes de administrados", completou Camila, da CM Capital Markets.
Para 2017, as contas são de que o indicador vai subir 5,10 por cento, acima do centro da meta oficial, também de 4,5 por cento, mas com tolerância de 1,5 ponto percentual.