Investing.com – A demanda por cortes nas taxas de juros se intensificou desde novembro, impulsionando os mercados em um rali de fim de ano. Contudo, em suas últimas falas, os líderes dos bancos centrais reduziram as expectativas, destacando a força do mercado de trabalho e solicitando tempo para analisar mais dados. Apesar desse tom “hawkish” (rígido), de acordo com Steven Bell, economista-chefe da Emea na Columbia Threadneedle Investments, em 2024 ainda testemunharemos cortes expressivos nas taxas de juros pelos bancos centrais, com algumas variações entre Estados Unidos, Reino Unido e Europa. Vamos ver quais.
Estados Unidos: primeiros cortes possíveis em março
Nos Estados Unidos, os dados de curto prazo da inflação ao consumidor estão em linha ou próximos à meta de 2%. A desaceleração da inflação dos salários indica que essa tendência é estável. “No entanto - observa Bell -, neste cenário, a política também tem um papel importante; frente à eleição presidencial mais polarizada dos tempos modernos, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) quer evitar que a decisão sobre o corte das taxas se transforme em assunto político”.
Nesse sentido, segundo o analista, um primeiro corte das taxas em março poderia ser conveniente. Claro que seria preciso uma forte justificativa econômica, e o índice de custo do emprego, previsto para o final do mês, poderia ter um papel relevante nesse sentido. “Esse dado – explica Bell - é geralmente visto como a melhor medida do crescimento dos salários, embora seja divulgado apenas trimestralmente, e uma variação menor que 1,0% trimestre a trimestre poderia ser determinante para respaldar um primeiro corte das taxas em março”.
Na verdade, a persistência de uma baixa taxa de desemprego e um crescimento econômico firme não justificariam a urgência de um corte nas taxas. No entanto, segundo a visão do especialista, “a política monetária ainda é restritiva hoje e um corte modesto na primavera ajudaria a despolitizar as decisões posteriores”. Em resumo, Bell espera uma diminuição gradual das taxas nos Estados Unidos, “em direção à expectativa do mercado de 4%, até o final do ano e além”.
Europa deve reduzir juros a partir do segundo trimestre
A inflação na Europa ficou abaixo do esperado pelo Banco Central Europeu (BCE) no final de 2023, mostrando uma queda consistente. Já a inflação dos salários ainda gera incertezas. “A negociação salarial está em andamento e, apesar de haver motivos para esperar uma forte desaceleração no aumento dos salários, o BCE vai querer ver os resultados”, diz Bell. “Embora não se descarte um corte de juros em abril”, o economista acredita que pode ser necessário esperar até junho para ver uma redução efetiva.
Banco da Inglaterra será o último a cortar
As previsões sobre a inflação dos salários no Reino Unido também são duvidosas. “Os dados de curto prazo indicam uma forte desaceleração, mas o ponto de partida é muito alto. Além disso - alerta Bell -, o reajuste de 10% do salário mínimo em abril pode pressionar os salários para cima”.
No entanto, “esperamos que o Banco da Inglaterra siga a Fed e o BCE com cortes expressivos nos juros este ano, mas provavelmente será o último a fazer o primeiro corte”, afirma o economista.
Tensões no mar Vermelho têm impacto limitado
Por fim, sobre o aumento dos custos de transporte devido às tensões no mar Vermelho, questiona-se se isso pode elevar a inflação e, consequentemente, atrapalhar os planos de redução dos juros. Segundo Bell, é preciso considerar que “a magnitude dos aumentos é menor do que a observada no período pós-covid-19. Além disso – acrescenta -, naquele período, as empresas buscaram recompor estoques, pois a forte demanda permitia repassar facilmente os custos adicionais com preços mais altos, o que não ocorre hoje”.
Em resumo, conclui o especialista, “o impacto desse aumento deve ser pequeno e temporário”.