Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - A 25 dias de deixar o governo, o presidente Michel Temer afirmou que o Brasil não tem poder econômico hoje para "patrocinar o isolacionismo" e defendeu o multilateralismo nas relações comerciais.
"Sou francamente a favor do multilateralismo. Não temos poder econômico e político para o isolacionismo, o unilateralismo", defendeu Temer em conversa com jornalistas de agências internacionais em um café da manhã nesta quinta-feira.
O presidente elogiou a postura dos países do G20, na reunião em participou em Buenos Aires na semana passada, quando todos os países presentes teriam defendido essa postura. "Hoje não é mais uma posição possível o isolacionismo", disse.
A posição de Temer contrasta com declarações do presidente eleito Jair Bolsonaro, que defende uma aproximação maior com os Estados Unidos, vem criticando o excesso de relação do Brasil com a China, maior parceiro comercial do país, e diz ser necessário mudar toda a política externa brasileira.
Apesar disso, Temer afirmou que não vê mudanças significativas na área. "Eu acho que a política externa vai continuar. Há uma ou outra afirmação, mas acho que as coisas vão ser ajustadas."
O presidente também defendeu a importância do Acordo de Paris, que Jair Bolsonaro já afirmou, mais de uma vez, que planeja deixar. Lembrou que o Brasil foi um dos primeiros a depositar na Organização das Nações Unidas a ratificação do acordo e que salvar o meio ambiente é salvar vidas.
"Eu acho que aos poucos dentro do governo eleito está havendo essa compreensão", disse.
Durante a campanha Bolsonaro já havia ameaçado sair do acordo de Paris. Apesar de recuar depois disso, ele repetiu a posição recentemente ao afirmar que havia sido dele o pedido para que o Brasil não sediasse a Conferência das Partes 25 sobre mudanças climáticas.
"Não quero anunciar uma possível ruptura (com o acordo) dentro do Brasil. Além dos custos que seriam, no meu entender, bastante exagerados tendo em vista o déficit que nós já temos no momento", disse o presidente eleito.
Na semana passada, durante a reunião do G20, o presidente da França, Emanuel Macron, afirmou que o apoio da França ao acordo comercial entre Mercosul e União Europeia dependeria da posição do Brasil sobre o acordo de Paris.