Por Alexandre Caverni e Maria Pia Palermo
SÃO PAULO (Reuters) - A operação Lava Jato lançou nesta sexta-feira nova fase da investigação tendo como alvo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contra o qual foram expedidos mandados de condução coercitiva e busca e apreensões, para apurar possíveis crimes de corrupção e lavagem de dinheiro do esquema envolvendo a Petrobras (SA:PETR4).
Segundo a Polícia Federal, cerca de 200 policiais e 30 auditores da Receita Federal cumprem 33 mandados de busca e apreensão e 11 de condução coercitiva, incluindo dois em São Bernardo de Campo (SP), local onde mora Lula.
O Ministério Público Federal (MPF) disse que as ações estão sendo feitas para aprofundar a investigação de possíveis crimes de corrupção e lavagem de dinheiro praticados por meio de pagamentos dissimulados feitos pelo pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, e pelas construtoras OAS e Odebrecht ao ex-presidente e a pessoas associadas.
Lula, além de líder partidário, era o responsável final pela decisão de quem seriam os diretores da Petrobras e "foi um dos principais beneficiários dos delitos", segundo o MPF.
"De fato, surgiram evidências de que os crimes o enriqueceram e financiaram campanhas eleitorais e o caixa de sua agremiação política", acrescentou o MPF.
Segundo o Ministério Público, há ainda evidências de que o ex-presidente recebeu, em 2014, pelo menos 1 milhão de reais sem aparente justificativa econômica lícita da OAS, por meio de reformas e móveis de luxo destinados a apartamento tríplex no Condomínio Solaris, no Guarujá (SP).
Além do tríplex, a PF vem investigando um sítio em Atibaia (SP), também sob suspeita de ocultação de patrimônio pelo ex-presidente.
Ambos os imóveis foram relacionados com empreiteiras investigadas na Lava Jato. Lula tem negado que seja dono do apartamento no litoral e do sítio no interior paulista.
Lula deixou a Presidência da República com recordes históricos de aprovação, mas vem perdendo popularidade, segundo pesquisas de opinião, diante das investigações contra ele e do quadro econômico vivido pelo país sob o governo da presidente Dilma Rousseff, da qual ele é padrinho político.
MAIS ENVOLVIDOS
A mais recente fase da Lava Jato --que há dois anos vem investigando um bilionário esquema de corrupção envolvendo a Petrobras, órgãos públicos, empreiteiras, partidos e políticos-- ocorre nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.
A operação também envolve a ex-primeira-dama Marisa, os filhos do ex-presidente Marcos Cláudio, Fábio Luis e Sandro Luis, e a nora Marlene Araújo, segundo informações na mídia local. O Instituto Lula e a LILS Palestras também estão sob investigação.
Segundo o MPF, estão sendo investigados pagamentos feitos por construtoras beneficiadas no esquema Petrobras em favor do Instituto Lula e da LILS Palestras, em razão de suspeitas levantadas pelos ingressos e saídas dos valores.
De fato, a maior parte do dinheiro que ingressou em ambas as empresas, de 2011 a 2014, veio de empresas do esquema Petrobras, entre elas Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e UTC.
No último sábado, durante comemorações pelo aniversário do PT, Lula disse que tinha sido informado de que teria seus sigilos bancário, telefônico e fiscal quebrados.
"A partir de segunda-feira vão quebrar meus sigilos fiscal, telefônico, tudo, meu da Marisa, da minha netinha e até da minha mãe. Esse é o preço? Eu pago!", disse Lula. "Mas eu duvido que tenha um mais honesto do que eu."
Procurados, o Instituto Lula e o PT não comentaram de imediato a nova fase da Lava Jato.