Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - As notícias sobre o eventual acordo de delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) divulgadas nesta quinta-feira trouxeram novo fôlego à oposição, que tenta promover o impeachment da presidente Dilma Rousseff, enquanto governistas tentavam minimizar os efeitos do mais recente capítulo da crise política.
Reportagem da revista IstoÉ publicada nesta quinta-feira afirma que o senador teria feito um acordo de delação premiada envolvendo a presidente e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que disputou a Presidência da República com Dilma, se confirmado o conteúdo da colaboração de Delcídio, trata-se do “momento mais grave de toda essa crise moral”.
“Fato concreto é que o Brasil hoje está frente ao momento mais grave dessas denúncias”, disse o senador após uma reunião com integrantes da oposição.
Segundo Aécio, a oposição apoiará um aditamento ao pedido de impeachment que já tramita na Câmara dos Deputados, assinado pelos mesmos juristas que redigiram o pedido original –Miguel Reale Jr, Hélio Bicudo e Janaína Paschoal.
A reportagem relata conteúdo da suposta delação premiada de Delcídio dizendo que Dilma e o então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, teriam tentado interferir na operação Lava Jato e que a presidente teria buscado indicar ministros aos tribunais superiores para favorecer acusados.
Ex-líder do governo no Senado, Delcídio foi preso no âmbito da Lava Jato em novembro, acusado de tentar facilitar a fuga do ex-diretor da Petrobras (SA:PETR4) Cerveró. Foi solto há cerca de duas semanas e está em licença médica do Senado.
O líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), afirmou que a delação de Delcídio joga por água abaixo o discurso do governo de que Dilma e Lula desconheciam o esquema de corrupção na Petrobras.
“O senador Delcídio era o líder da presidente Dilma, agia e falava em nome dela, gozava de sua total intimidade. As informações contidas em sua delação são uma pá de cal no governo da presidente e na defesa de Lula porque não se trata mais de um delator qualquer -mas sim o líder da presidente, reforço, pessoa de sua intimidade e total confiança”, disse Imbassahy.
CAUTELA
Parlamentares governistas se manifestaram em defesa de Dilma e Lula. O líder do PT na Câmara, Afonso Florence (PT-BA), levantou dúvidas sobre a veracidade da reportagem da revista. Para ele, a notícia pode ser um “furo” ou uma “barrigada monstra”.
O líder argumenta que o procurador-geral da República (PGR), Rodrigo Janot, não confirmou a homologação da possível delação, e lembrou que o próprio Delcídio divulgou nota dizendo que "não confirma" o conteúdo da matéria da revista.
Segundo Florence, a oposição apressou-se em utilizar o conteúdo e pedir aditamento do processo de impeachmet porque “não tem agenda para o país, trabalha só essa pauta, que já se esvaiu, não tem fundamento”.
Na mesma linha, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), defendeu a necessidade de se analisar o caso com “calma”, “tranquilidade” e “cautela”.
“Primeiro, porque não sabemos se de fato essa delação houve; se houve, se será homologada e em sendo homologada, se tudo que consta nela de fato é real”, disse a senadora.
“Entramos numa ebulição política em razão disso que não faz bem ao país”, afirmou, acrescentando que as acusações contra Dilma e Lula não têm base.
Questionado se a suposta delação contribuiria para alimentar o processo de impeachment, o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ) disse que “ainda é cedo para analisar".
"Primeiro é preciso ter conhecimento do que se trata e da consistência efetiva que (a suposta delação) tem”, disse.
(Com reportagem adicional de Leonardo Goy)