O candidato à Prefeitura de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) negou que seja "oportunismo" uma mudança de tom em sua campanha no segundo turno para tentar captar os eleitores de Pablo Marçal (PRTB). O emedebista passou a divulgar, com maior ênfase, propostas para empreendedores da capital paulista e a usar o termo "prosperar", muito utilizado pelo ex-coach, mais frequentemente nas últimas semanas.
"Não é oportunismo. Eu estava falando pouco disso. Reconheço que Marçal teve mais competência de poder levar esse tema que as pessoas precisavam escutar mais. Nós não tivemos a percepção de falar", disse Nunes em entrevista ao programa Estúdio i, da Globonews, nesta terça, 22. Ele afirmou que os projetos para pessoas que querem empreender ou que já empreendem na cidade de São Paulo já estavam anteriormente em seus planos de governo.
Para ele, sua campanha já conseguiu convencer o eleitor do influenciador a trocar a "mudança", que era representada pelo então candidato do PRTB, pela "continuidade" do trabalho de Nunes. "Eu tenho um plano (de governo) e preciso comunicar mais. Vou fazer objetivamente o que já está dando certo."
Mais cedo, o prefeito participou de um jantar organizado por um grupo de empresários que contou com a presença de seus padrinhos políticos, Jair Bolsonaro (PL) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outras lideranças políticas, como o ex-presidente Michel Temer (MDB). O emedebista rechaçou a ideia, quando perguntado, se ele teria medo de "perder votos" por estreitar laços com nomes da extrema-direita.
"Está todo mundo saturado de direita e esquerda. Para a eleição da cidade, a pessoa quer saber se o filho tem vaga na creche. A partir de 1º de janeiro, se eu for reeleito, quem vai continuar governando a cidade sou eu", afirmou aos jornalistas.
O governador de São Paulo é visto como um aliado mais importante que o ex-mandatário nacional na campanha de reeleição de Ricardo Nunes. O prefeito se recusou a responder se o nome do Republicanos desempenha uma atuação melhor do que a do presidente de honra do PL. No entanto, brincando com os jornalistas, disse que "levaria o Tarcísio" em uma carona se estivesse em um carro com apenas mais um lugar disponível.
"Dei uma caída em uma pesquisa no final de agosto. Foi ali que o Tarcísio entrou com tudo na campanha. Isso é demonstração de caráter", elogiou. Ele citou um discurso anterior feito pelo ex-governador de São Paulo em que o Executivo estadual afirmava que, caso eleito, a vitória de Nunes não seria de nenhum dos dois, mas sim "da cidade".
O emedebista foi enfático, inclusive, em dizer que Bolsonaro "não terá cota de secretariado" em uma eventual nova gestão à frente da Prefeitura. "Bolsonaro nunca me pediu nenhuma indicação de secretários. Só do vice, mas não foi uma imposição", declarou. Além disso, Nunes reforçou que construiu conversas com toda a base de partidos que o apoia e que não prosseguiu com nenhum acordo para futuros secretários. "A escolha será minha, porque eu seria cobrado."
Em entrevista à Globonews, Nunes também defendeu uma intervenção à Enel (BIT:ENEI), concessionária que administra as redes e a distribuição de energia elétrica na cidade de São Paulo, depois do apagão do início do mês. "Tem que fazer a intervenção. Ela tem um dia para sair daqui (com a medida)", reforçou. O prefeito tem sido acusado por seu adversário, Guilherme Boulos (PSOL), se esquivar-se da responsabilidade sobre o tema.
"Jamais vou tirar o corpo fora. Entrei com duas ações judiciais contra a Enel. Fui pessoalmente à Brasília, fui até o ministro de Minas e Energia, esse ministro fraco. Essa semana, eu e Tarcísio chamamos o presidente da Enel para uma reunião e dissemos: enquanto você não sair daqui, não vamos sossegar um dia", declarou.
O emedebista voltou a reconhecer, assim como o fez durante toda a campanha, que São Paulo ainda enfrenta muitos problemas. Mas assumiu o compromisso de se responsabilizar por eles. "Se tiver buraco, eu que tenho responsabilidade. Se tiver UBS sem medicamento, eu sou o responsável. Não vou fugir das minhas responsabilidades", prometeu o prefeito.
Questionado se confia em seu vice, coronel Mello Araújo (PL), para assumir a Prefeitura da capital paulista, caso o emedebista deixe o governo, Nunes prometeu cumprir seus quatro anos de mandato, mas reafirmou a confiança ao aliado. "Mello é uma pessoa muito correta e muito preparada", finalizou.