Por Eduardo Simões
(Reuters) - O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras (SA:PETR4) Paulo Roberto Costa disse nesta quarta-feira, ao prestar depoimento em ação em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é réu na Lava Jato, que não tinha relacionamento próximo com o ex-presidente, em mais uma audiência do processo marcado por embates entre a defesa de Lula e o juiz Sérgio Moro.
O ex-diretor, uma das três testemunhas de acusação a prestar depoimento no processo nesta quarta, afirmou que se reuniu com Lula algumas vezes, sempre acompanhado do presidente da Petrobras ou de toda a diretoria da estatal.
"Nunca tive intimidade com o presidente Lula", disse ele durante o depoimento. "Eu nunca tive uma reunião eu só com o presidente Lula", acrescentou.
Indagado pela defesa do ex-presidente se Lula costumava se referir a ele como "Paulinho", como aponta trecho da denúncia do Ministério Público, Costa disse que o ex-presidente se referiu diretamente a ele com este apelido, mas que não sabia se o usava para se referir a ele com outras pessoas.
Na noite de terça-feira a defesa de Lula protocolou na ação penal uma petição criticando a atuação de Moro e o clima ficou novamente tenso na audiência desta quarta, com o magistrado, responsável pela Lava Jato em primeira instância, indeferindo sucessivas contestações da defesa.
O depoimento de uma outra testemunha, o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró, que também estava marcado para esta quarta, acabou sendo adiado por Moro para a manhã de quinta-feira, quando o juiz alegou percalços criados pela defesa.
Os advogados de Lula afirmaram que o adiamento se deu por conta de uma palestra que seria dada por Moro, que eles afirmaram ter sido divulgada pela imprensa, e disseram que nenhuma das testemunhas ouvidas incriminou o ex-presidente.
"Mais uma vez, as testemunhas arroladas pelo Ministério Público Federal para a segunda audiência realizada hoje na 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba isentaram o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à acusação de recebimento de qualquer vantagem indevida por meio de um tríplex no Guarujá", afirma a nota da defesa.
"No curso da audiência, além de não seguir o rito estabelecido na lei, como registrado pela defesa em petição, Moro ainda fez nova antecipação de juízo de valor – tentando transformar o exercício do direito de defesa em falta de argumentos -, o que motivou a reiteração da sua suspeição."
Neste processo, Lula é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por supostamente ter recebido um tríplex da OAS e de ter tido despesas de armazenamento pagas pela empreiteira.
Os advogados do ex-presidente negam quaisquer irregularidades.
A primeira audiência para ouvir testemunhas nesta ação aconteceu na segunda-feira e também foi marcada por embates entre os advogados de Lula e Moro, que chegou a afirmar que a defesa buscava tumultuar o processo.
Na ocasião, o ex-senador Delcídio do Amaral, que teve o mandato cassado e fez acordo de delação com a Lava Jato, classificou de "surreal" a afirmação de que Lula não sabia do esquema de corrupção na Petrobras.