STF decide responsabilizar big techs por posts de usuários

Publicado 26.06.2025, 19:10
© Reuters.  STF decide responsabilizar big techs por posts de usuários

O STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu nesta 5ª feira (26.jun.2025) ampliar a responsabilização civil das redes sociais pelo conteúdo publicado por usuários e não retirados do ar. Por 8 votos a 3, os ministros decidiram os casos em que é necessária ordem judicial para excluir um conteúdo, as ocasiões em que basta uma notificação privada e os casos em que as plataformas devem agir por conta própria para impedir que os conteúdos cheguem ao espaço público.

A tese vencedora reconheceu o artigo 19 do Marco Civil da Internet (lei 12.965 de 2014), que é tema do julgamento em questão, como parcialmente inconstitucional. O dispositivo era a regra geral e definia a necessidade de ordem judicial para excluir um conteúdo. Agora, será a exceção e restrito apenas para crimes contra a honra. A regra geral passa a ser o artigo 21, que estabelece que uma notificação privada é suficiente em alguns casos. Entenda mais abaixo.

Eis o placar final do julgamento:

  • manter a exigência de ordem judicial para remover qualquer conteúdo – 3 votos (André Mendonça, Edson Fachin e Nunes Marques);
  • manter a exigência de ordem judicial só para crimes contra a honra – 8 votos (Dias Toffoli, Luiz Fux, Alexandre de Moraes, Roberto Barroso, Flávio Dino, Cristiano Zanin, Gilmar Mendes e Cármen Lúcia).

Em sessão plenária, o presidente Roberto Barroso afirmou que o STF não invade a competência legislativa do Congresso ao estabelecer os critérios para a responsabilização civil das redes sociais. Mas define os critérios para decidir sobre casos concretos que se apresentaram à Corte.

“Para deixar claro, o STF não está legislando, mas decidindo 2 casos concretos que se puseram perante ele e definindo critérios que vão prevalecer até que o Poder Legislativo entenda por bem que deverá prover sobre essa matéria”, declarou.

Segundo Barroso, a decisão se baseou em como se relacionam a liberdade de expressão nessas plataformas e outros direitos fundamentais em jogo como a honra, privacidade e intimidade das pessoas.

RESPONSABILIZAÇÃO DAS REDES

Por maioria, o STF decidiu que o artigo 19 do Marco Civil da Internet é parcialmente inconstitucional. A norma foi considerada insuficiente para proteger direitos fundamentais e a democracia.

Os ministros definiram que, enquanto o Congresso não aprovar uma nova legislação, as redes sociais poderão ser responsabilizadas civilmente por conteúdos ilícitos, sobretudo em casos de crimes ou publicações feitas por contas falsas.

É necessária ordem judicial para remover conteúdos que envolvem crimes contra a honra, como calúnia, difamação e injúria.

As redes sociais devem agir por conta própria para impedir a circulação massiva de conteúdos ilícitos graves que sejam replicados de maneira sistêmica, ou seja, repetitiva. Nesses casos, eles podem ser responsabilizados mesmo sem ordem judicial ou notificação privada. São eles:

  • condutas e atos antidemocráticos;
  • crimes de terrorismo ou preparatórios de terrorismo, tipificados;
  • crimes de induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação
  • incitação à discriminação emrazão de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional, sexualidade ou identidade de gênero (condutas homofóbicas e transfóbicas);
  • crimes praticados contra a mulher em razão da condição do sexo feminino, inclusive conteúdos que propagam ódio ou aversão às mulheres;
  • crimes sexuais contra pessoas vulneráveis, pornografia infantil e crimes graves contra crianças e adolescentes; e
  • tráfico de pessoas.

A Corte pondera, no entanto, que a existência de um conteúdo ilícito de forma isolada não é, por si só, suficiente para aplicar a responsabilidade civil às plataformas. Sendo assim, é necessária uma notificação privada para remover um post individual que configure crimes graves e, só se as plataformas não excluírem o post, é que elas poderão ser responsabilizadas.

O STF também estabeleceu que as redes sociais passam a ter uma presunção de responsabilidade sobre conteúdos ilícitos impulsionados por anúncios pagos ou distribuídos por robôs automatizados (bots). Nesses casos, a responsabilização pode se dar independente de notificação.

A decisão não é aplicável a plataformas de e-mail (GMail, Yahoo, Outlook), de reunião (Zoom, Google (NASDAQ:GOOGL) Meets e Microsoft (NASDAQ:MSFT) Teams) e de mensagens privadas (WhatsApp e Telegram), respeitando o sigilo das comunicações.

O Supremo também reafirmou que os marketplaces —como sites de venda de produtos e serviços— continuam regulados pelo Código de Defesa do Consumidor.

A Corte determinou ainda que as plataformas devem estabelecer regras próprias de autorregulação, com mecanismos de notificação, transparência e canais acessíveis ao público. Empresas estrangeiras que atuam no Brasil terão de manter sede ou representante legal no país, com poderes para responder na Justiça e em órgãos administrativos.

Por fim, o tribunal fez um apelo para que o Congresso Nacional atualize a legislação para corrigir as falhas apontadas na decisão. Os efeitos da nova interpretação valerão apenas para situações futuras e não afetarão sentenças já transitadas em julgado.

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