Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, homologou nesta terça-feira o acordo de delação premiada firmado pelo senador Delcídio do Amaral no âmbito da operação Lava Jato, em que o ex-líder do governo no Senado faz acusações contra a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre outros políticos do governo e da oposição.
Preso em novembro do ano passado, Delcídio decidiu fazer a delação sobre o esquema de corrupção envolvendo a Petrobras (SA:PETR4), outras empresas, políticos e partidos, o que levou Dilma a reagir e classificar a decisão como "vingança". O senador, que anunciou nesta terça-feira sua desfiliação do PT, foi solto em fevereiro por decisão do STF. [nL2N15Y1CO]
O acordo de delação também prevê a devolução por parte do senador de 1,5 milhão de reais obtidos por meio de infrações, de acordo com a Procuradoria-Geral da República.
Delcídio foi preso acusado de tentar obstruir as investigações da Lava Jato. Ele aparece em um áudio oferecendo dinheiro, influência política junto ao Judiciário e até uma rota de fuga para o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró em troca do silêncio dele nas investigações.
Na delação, divulgada pelo STF após a homologação, o senador acusa o ex-presidente Lula de também ter envolvimento na trama sobre Cerveró, o que poderia ter implicações na decisão de Lula de virar ministro. De acordo com uma fonte do Palácio do Planalto, o ex-presidente aceitou nesta terça ocupar um ministério, o que lhe concederia foro privilegiado. [nE6N15J01J]
Sobre Dilma, o senador afirmou que a presidente agiu, assim como o ex-ministro da Justiça e atual advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, no sentido de tentar promover a soltura de réus presos no âmbito da Lava Jato.
Dilma, Cardozo e Lula negam ter cometido qualquer irregularidade. Quando houve divulgação pela revista IstoÉ sobre o acordo de delação, a presidente a classificou como "vingança" pelo fato de o governo não ter interferido para libertá-lo quando ele foi preso.
O Instituto Lula disse nesta terça-feira em resposta às acusação de Delcídio que "não comenta falatórios".
Em sua colaboração, o senador também acusou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, de ter lhe oferecido dinheiro em troca de silêncio na investigação.
Outro citado por Delcídio é o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), a quem o senador acusou de ser beneficiário de valores ilícitos desviados de Furnas. Também foram citados por Delcídio na delação os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Em seu requerimento de homologação da delação ao STF, a Procuradoria-Geral da República diz que Delcídio esclareceu em sua colaboração "diversos fatos que interessam diretamente às investigações em curso acerca da atuação da organização criminosa" que é alvo de investigação da Lava Jato.
Hoje advogado-geral da União, Cardozo disse após a divulgação da notícia da homologação da delação de Delcídio que não vê "por que mudar muita coisa".
"Boa parte do conteúdo da delação de Delcídio já tinha sido revelado", disse. "São acusações muito frágeis sobre a presidente Dilma e o governo. Os fatos não se sustentam."
Em resposta às denúncias do senador, o ministro Mercadante convocou a imprensa para uma entrevista coletiva nesta tarde, enquanto Cunha deve se pronunciar ainda nesta terça-feira. O senador Aécio Neves negou, no passado, qualquer irregularidade envolvendo Furnas. O senador Renan Calheiros negou, por meio de nota as alegações.
(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu, em Brasília, e Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro)