O número de domicílios no Brasil com acesso à internet chegou a 68,9 milhões em 2022, o equivalente a 91,5%. É o que mostra a pesquisa TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação) da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Embora o país tenha apresentado aumento quanto à acessibilidade digital, 98,9% dos brasileiros com 10 anos ou mais acessam a internet pelo celular. Especialistas ouvidos pelo Poder360 avaliam que o alto percentual reflete a popularidade e acessibilidade dos dispositivos móveis no Brasil.
Para Eduardo Almeida, engenheiro de telecomunicações e consultor de TI da Ignis Digital, embora o número de pessoas com acesso à internet pelo celular pareça “uma estatística positiva”, o dado “camufla tanto o uso inadequado do acesso à internet, em grande parte usada para jogos e redes sociais”.
“O ideal é que a utilização visasse a busca por conhecimento e o rompimento das fronteiras possibilitando o acesso a informações de outras fontes, culturas, países”, disse.
Almeida ainda afirmou que “outro lado negativo da estatística está em revelar a impossibilidade desses lares terem computadores e laptops que possibilitariam um acesso mais amplo à grande rede”.
Wellington Mozarth Moura Maciel, especialista em educação tecnológica e mestrando em educação UDE (Universidad de la Empresa), afirmou que é importante analisar “a finalidade” do uso da internet pelos dispositivos móveis.
“Na maioria das vezes, as operadoras ofertam dentro dos seus pacotes básicos, a gratuidade para as redes sociais. Nós temos uma parcela maior da sociedade sendo consumidor desse conteúdo e, na maioria das vezes, isso não é tão benéfico. Você tem uma situação de quase vício no uso da rede social. Quando só se tem acesso às redes sociais, isso não é um acesso qualificado da internet”, declarou.
De acordo com a pesquisa, o número de domicílios que contam só com internet móvel apresentou aumento de 77,5% em 2016 para 86,4% no ano passado –aperecendo em 3º lugar no ranking do tipo de conexão.
A banda larga é a 1ª colocada no tipo de conexão, passando de 99,7% (2016) para 98,9%. Em 2º está a internet fixa, a qual também apresentou acréscimo: 71% em 2016 para 86,4% em 2022.
A pesquisa divulgada pelo TIC também mostra que o número de domicílios com acesso à internet por microcomputadores (laptop ou de mesa) teve recuo de 63,2% em 2016 para 35,5% de 2022.
Hailla Daleth Melo Ribeiro, advogada especialista em direito digital e segurança da informação, afirmou que a queda no uso da internet pelos microcomputadores está relacionada à quantidade de usuários idosos, crianças e moradores de área rural.
“Os novos usuários elevaram o número total contabilizado da população com acesso à internet, que navegam através de aparelho celular e não são usuários regulares de microcomputadores, fazendo com que o percentual de acesso por esse meio tenha sofrido um decréscimo relevante”, disse.
Eduardo Almeida afirmou que o declínio do acesso à internet por microcomputadores “pode ser atribuído ao alto custo de bons equipamentos”.
“Também pode estar relacionado à preferência por dispositivos mais portáteis. As mudanças nos padrões de uso, com as pessoas buscando mais comodidade, podendo aproveitar o acesso onde estiverem, também podem ser responsáveis pela queda”, disse o engenheiro de telecomunicações.
Ainda segundo Eduardo Almeida, o dado também mostra um “lado negativo da estatística”, a qual “revela a impossibilidade desses lares terem computadores e laptops que possibilitariam um acesso mais amplo à grande rede”.
TELEVISÃO
A pesquisa Pnad Contínua mostrou que de 2021 a 2022, o número de domicílios do país com TV subiu de 69,6 milhões para 71,5 milhões. Contudo, apresentou queda na proporção de residêncas –recuou de 95,5% (2021) para 94,9% (2022).
“Embora a TV ainda seja um meio de comunicação muito usado, o seu declínio deve-se, em grande proporção, à popularização da internet, que possibilita que as pessoas busquem e acessem os conteúdos que mais tenham interesse e não fiquem presos a uma grade que as emissoras impõem”, declarou Eduardo Almeida.
O levantamento mostrou que o uso da internet por meio de TVs apresentou crescimento acelerado:
- 2016 – 11,3%;
- 2019 – 32,2%; e
- 2022 – 47,5%.
Esse aumento também refletiu no número de domicílios com serviço de streaming. Em 43,4% das residências os brasileiros afirmaram fazer uso dessas plataformas digitas.
Para Hailla Daleth Melo Ribeiro, o aumento do uso das plataformas de streaming também está relacionado à cultura do brasileiro em ter a TV “como uma das principais formas de entretenimento”.
“Diante disso, o aumento da porcentagem de acesso à internet através dos aparelhos de TV é explicado devido a popularização dos serviços de streaming e das smart TVs cada vez mais acessíveis e preferenciadas entre os eletrodomésticos”, afirmou a advogada especialista em direito digital e segurança da informação.
Eduardo Almeida declarou que a preferência pelo streaming reflete “mudanças nos hábitos de consumo de entretenimento”, além de estar relacionada ao “crescimento dos serviços oferecidos, tais como as plataformas Netflix (NASDAQ:NFLX), HBO e Amazon (NASDAQ:AMZN) Prime”.
Quanto ao acesso a serviço de TV por assinatura, a pesquisa mostra uma queda no percentual. Era 33,9% em 2016 e caiu para 27,7% em 2022.
A redução se deu nas regiões urbanas, passando de 37,2% (2016) para 28,8% (2022). Já no perímetro rural, houve aumento: saiu de 11,9% em 2016 para 19,8% na área rural.