Bolsonaro e entorno estão à deriva à medida que julgamento se aproxima, dizem aliados

Publicado 25.08.2025, 11:20
Atualizado 25.08.2025, 11:26
© Reuters

Por Ricardo Brito e Luciana Magalhaes e Manuela Andreoni

BRASÍLIA (Reuters) - Enquanto o Supremo Tribunal Federal se prepara para o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre um suposto plano de golpe de Estado, o ex-capitão do Exército e seu entorno político mostram sinais de desintegração.

Aliados que visitaram Bolsonaro, atualmente em prisão domiciliar em um condomínio fechado de Brasília, disseram à Reuters que o viram lutando contra crises de tristeza, ataques de soluços e uma fixação no ministro Alexandre de Moraes, do STF, a quem ele culpa por seus problemas.

O aliado do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi atingido por uma nova turbulência nesta semana, quando a Polícia Federal divulgou um conjunto de mensagens privadas que o retratam como um líder hesitante, duvidando de si mesmo e lutando para conter as brigas internas entre seus aliados próximos.

"Abre a boca!", escreveu-lhe em uma mensagem o pastor evangélico Silas Malafaia, pedindo ao ex-presidente que fizesse uso político das pesadas tarifas que Trump impôs aos produtos brasileiros. "Líder dá direção ao povo. Povo é levado por outros quando o líder se cala."

As mensagens foram divulgadas como parte de uma investigação sobre o ex-presidente e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está liderando uma campanha nos Estados Unidos pedindo que o governo do presidente dos EUA, Donald Trump, intervenha em favor de seu pai.

No mês passado, Trump impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros em uma tentativa de interromper o que ele chamou de "caça às bruxas" contra o ex-presidente. Trump também impôs sanções a Moraes, relator do caso em que Bolsonaro é acusado de conspirar para anular sua derrota nas eleições de 2022.

A pressão dos EUA não fez nada para atrapalhar o julgamento de Bolsonaro e parece ter até dado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um impulso nas pesquisas de opinião e um inimigo estrangeiro comum para sua frágil coalizão de governo.

À medida que o julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal -- marcado para setembro -- se aproxima, suas conversas mostram um líder inseguro sobre como conduzir seu próprio destino, quanto mais unir sua base fragmentada antes das eleições presidenciais do próximo ano.

Quando Malafaia pediu a Bolsonaro que gravasse um vídeo e o traduzisse para o inglês para chamar a atenção de Trump, o ex-presidente reclamou que estava muito doente para responder.

"Estou com uma crise de soluço", escreveu ele. "Se por acaso acalmar aqui, eu faço."

Ele gravou o vídeo dias depois.

Em um comunicado, um advogado de Malafaia disse que suas mensagens privadas foram tiradas de contexto e que elas não mostram nenhuma irregularidade. A defesa de Bolsonaro não comentou.

"O PRESIDENTE ESTÁ ANGUSTIADO"

Bolsonaro já está há três semanas confinado em sua casa, em um condomínio de luxo em Brasília, desde que Moraes determinou que ele não cumpriu as ordens de restrição destinadas a impedir qualquer interferência no julgamento e lhe impôs uma prisão domiciliar.

Bolsonaro chamou essas decisões, incluindo a apreensão de seu celular e a obrigatoriedade de usar uma tornozeleira eletrônica, de atos de "covardia" de Moraes, a quem ele descreve como um "ditador"

"Suprema humilhação", disse Bolsonaro à Reuters em uma entrevista no dia em que a tornozeleira eletrônica foi colocada. "Tenho 70 anos, fui presidente da República por quatro anos."

À medida que sua prisão domiciliar se arrasta, o humor do ex-presidente vem piorando, apesar do fluxo constante de visitas de aliados.

"A gente percebe que o presidente está angustiado, ele não é aquele Bolsonaro risonho que a gente conhece, o principal aspecto da angústia é o sentimento de injustiça", disse o deputado Domingos Sávio (PL-MG), que esteve na casa do ex-presidente na semana passada.

Os pensamentos de Bolsonaro voltam regularmente para Moraes, cujo nome ele repete "o tempo todo", disse o deputado Luciano Zucco (PL-RS) à Reuters ao sair da casa do ex-presidente na semana passada.

As evidências encontradas pela Polícia Federal no celular de Bolsonaro sugerem que ele pode não ter cumprido totalmente as ordens de restrição emitidas por Moraes, impedindo-o de usar as redes sociais.

Ele compartilhou mensagens de apoio às políticas de Trump no Brasil mais de 6.000 vezes, segundo a polícia. Um rascunho de carta em seu telefone sugeria que ele havia considerado fugir para a Argentina.

"Solicito à Vossa Excelência asilo político na República da Argentina em regime de urgência, por eu me encontrar na situação de perseguido político no Brasil, por temer por minha vida", dizia o documento endereçado ao presidente argentino Javier Milei, que foi editado pela última vez em 2024, segundo a polícia.

Em uma declaração na semana passada, os advogados de Bolsonaro disseram que o ex-presidente "nunca deixou de cumprir nenhuma ordem de restrição imposta anteriormente"

LUTAS

À medida que os desafios de Bolsonaro aumentaram, também aumentam as brigas internas entre seus aliados, que ainda não têm certeza de quem representará o ex-presidente na votação do próximo ano, na qual ele está impedido de concorrer.

Um grupo, incluindo a família de Bolsonaro, se recusou a considerar uma corrida em 2026 sem seu nome na disputa. Mas outros estão pressionando-o a endossar uma alternativa, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), um ex-membro de seu gabinete que Eduardo Bolsonaro tem atacado repetidamente.

O filho de Bolsonaro alertou seu pai em mensagens de texto que a possível candidatura do governador poderia minar a disposição de Trump em ajudar o ex-presidente.

"Aqui nos EUA tivemos que driblar a ideia plantada aqui pelos aliados dele, de que ’Tarcísio = Bolsonaro’, uma clara mensagem de que os EUA não precisariam entrar nesta briga, pois com TF (Tarcísio) ou você, Trump teria um aliado na Presidência do Brasil em 2027."

Quando o ex-presidente minimizou uma briga entre o governador e seu filho, a quem chamou de "não tão maduro", Eduardo Bolsonaro atacou em mensagens de bate-papo vulgares, divulgadas esta semana pela polícia, chamando seu pai de "ingrato"

Tarcísio e Eduardo Bolsonaro não responderam imediatamente a um pedido de comentário.

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