Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira que não terá problemas se o seu indicado para ocupar a presidência do Banco Central, Gabriel Galípolo, tiver que aumentar os juros no país, mesmo depois de ter passado meses criticando o atual presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, por não ter acelerado a queda das taxas.
"Eu sei lidar com o Banco Central. O problema é que no imaginário do mercado, o presidente do Banco Central tem que ser um representante do sistema financeiro. E eu não acho que tenha que ser", criticou Lula em entrevista à rádio MaisPB, de João Pessoa.
"Tem que ser uma pessoa que goste deste país, que pense na soberania nacional e que tome as atitudes corretas. Se um dia o Galípolo chegar para mim: 'olha, tem que aumentar os juros', ótimo."
A indicação de Galípolo, hoje diretor de Política Monetária do BC, foi anunciada esta semana pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, depois de uma conversa com Lula. O nome do economista ainda precisa ser aprovado pelo Senado, mas Executivo e Legislativo não prevêem grandes dificuldades, e Galípolo deve tomar posse em janeiro do próximo ano, com o fim do mandato de Campos Neto.
Desde que assumiu o governo, Lula fez críticas constantes ao atual presidente do BC, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Na entrevista desta sexta, o presidente acusou Campos Neto de agir como político, não como economista. A principal guerra do presidente é sua avaliação de que o presidente do BC não trabalhou para reduzir mais rapidamente a taxa Selic, hoje em 10,5% ao ano.
Na entrevista, Lula elogiou Galípolo, que conheceu em 2021, ainda antes da campanha eleitoral de 2022, o chamou de "jovem competentíssimo" e afirmou que ele terá a mesma autonomia que teve Henrique Meirelles durante seus dois primeiros mandatos na Presidência. Disse ainda que Galípolo poderá aumentar ou baixar os juros se necessário, sem interferência, mas cobrou que ele justifique as decisões.
Apesar de reafirmar ser contra a independência do BC aprovada pelo Congresso, Lula disse que não tem votos para mudar a medida e ela "está aí e vai ficar".
"Se tiver que baixar juros, baixa; se tiver que aumentar, aumenta. Mas tem que ter uma explicação! Porque o papel do Banco Central não é só medir juros, não, ele tem que ter meta de crescimento também", disse.
Desde o início do governo, Lula já indicou -- e o Senado aprovou -- quatro dos oito diretores do BC que compõem, com o presidente da autarquia, o Comitê de Política Monetária (Copom), responsável por definir a taxa de juros. Agora, indicará mais três - incluindo um nome para substituir Galípolo, e os diretores de Relacionamento e Regulação.
Em 2025, com a troca de mais um diretor, o atual governo terá indicado sete dos nove votantes no Copom.
"O Galípolo é uma indicação extraordinária e nós vamos indicar mais gente ainda neste ano. Até o ano que vem, muda todo mundo no Banco Central e vai ter uma nova equipe", disse Lula.