Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira uma operação para descapitalizar bens e valores de um grupo criminoso no Brasil que tinha vínculos com um esquema internacional de tráfico de drogas, inclusive com cartéis mexicanos, segundo um comunicado da PF.
O esquema de lavagem de dinheiro do comércio e transporte de drogas de países da América do Sul com destino a cartéis mexicanos e nações da América Central movimentou 5,5 bilhões de reais nos últimos cinco anos em recursos de origem suspeita, envolvendo mais de 100 empresas, 240 carros, 12 aeronaves e dezenas de imóveis, revelou o delegado da Polícia Federal responsável pela operação.
"A ideia foi realmente descapitalizar (a organização criminosa) nessa operação, por isso que a gente pediu todos os bloqueios possíveis, tanto das contas bancárias como das aeronaves, embarcações, veículos", afirmou o delegado Felipe Garcia em entrevista à Reuters.
A Operação Terra Fértil, deflagrada pela PF nesta terça-feira, envolveu 280 policiais e, segundo o delegado, cumpriu oito dos nove mandados de prisão preventiva expedidos e efetuou 80 mandados de busca e apreensão nos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Bahia e Goiás.
Garcia disse que o principal alvo da operação, Ronald Roland, foi preso. O delegado contou que ele se estabeleceu em Uberlândia (MG) em 2021 e passou a morar em uma casa de alto padrão avaliada em 2,5 milhões de reais, que estava no nome de uma empresa de fachada que não tinha funcionários e sem atividade comercial.
A Reuters não conseguiu contato com a defesa de Roland.
As investigações descobriram, com base em relatórios de inteligência financeira (RIFs) do órgão do governo responsável por analisar movimentações atípicas, o Coaf, que essa e outras empresas de São Paulo e outros Estados movimentavam dezenas, e às vezes centenas, de milhões de reais em poucos meses, conforme o delegado. A PF, então, descobriu que havia relação com tráfico internacional de drogas.
"O esquema é bastante complexo e bem grande. Eles criam uma empresa e aí ficam com essa empresa um ano, um ano e meio, fecham a empresa e abrem outra empresa de fachada, movimentam dinheiro e passam o dinheiro para outra empresa, fecham essa e criam outra, e ficam nessa, então eram mais de 100 empresas", disse.
A PF também constatou, segundo comunicado, que algumas das empresas efetuavam transações com empresas no ramo de criptomoedas e de atividades que não tinham relação com o ramo de negócio, o que leva a crer que os investimentos estivessem sendo usados para mascarar a origem ilícita dos valores.
O delegado afirmou que Roland já foi investigado por tráfico internacional de drogas em outras quatro operações da PF, sempre em esquemas que faziam a mesma rota: traziam cocaína de países como Colômbia, Paraguai e Bolívia para o Brasil e levavam para o México e países da América Central.
"O homem já fora investigado em outras ocasiões pela PF e há suspeitas de que ele enviava cocaína para países das Américas do Sul e Central, com destaque para remessas a violentos cartéis mexicanos", disse a PF em comunicado, sem citar Roland.
O delegado e outras duas fontes com conhecimento da operação disseram à Reuters que parte dos alvos, inclusive Ronald, já fizeram ou faziam negócios com integrantes do Primeiro Comando da Capital, o PCC.
A Justiça decretou o bloqueio de 2,5 bilhões de reais em valores ligados ao grupo. Dos 240 veículos ligados à organização criminosa identificados pela PF, até a tarde desta terça foram apreendidos 34 carros, boa parte deles de luxo; dos 12 aviões na mesma situação, dois foram apreendidos -- um deles, um Embraer (BVMF:EMBR3) Phenom de 2015 avaliado em 40 milhões de reais.
Todos os imóveis alvos de mandados de busca foram bloqueados, disse o responsável pela operação.