Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Polícia Federal está produzindo um relatório sobre a hospedagem do ex-presidente Jair Bolsonaro na embaixada da Hungria em fevereiro deste ano logo após ter tido o passaporte apreendido, e o documento será enviado em breve ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, disse nesta terça-feira à Reuters uma fonte com conhecimento das investigações.
A fonte, que falou sob condição de anonimato, disse que a PF tinha conhecimento da ida de Bolsonaro à representação húngara em Brasília, mas não possuía as imagens que foram reveladas pelo jornal The New York Times na segunda-feira.
A publicação norte-americana revelou que Bolsonaro dormiu duas noites na embaixada dias após ser alvo de uma operação da PF sobre uma suposta trama golpista durante o seu governo.
Moraes já estabeleceu prazo até quarta-feira para Bolsonaro se explicar ao Supremo sobre a estadia na embaixada da Hungria.
O New York Times obteve imagens de circuito interno de segurança e via satélite que mostraram a chegada de Bolsonaro ao local no dia 12 de fevereiro, e o carro que o levou estacionado lá até o dia 14. Dias antes, em 8 de fevereiro, ele teve seu passaporte apreendido no âmbito da operação da PF.
O jornal norte-americano tratou o episódio como "uma aparente tentativa de obtenção de asilo" por parte de Bolsonaro. Caso o ex-presidente estivesse na embaixada húngara e a Justiça determinasse sua prisão, agentes da PF não poderiam entrar na representação diplomática da Hungria para prendê-lo, pois o local é protegido pela legislação e está fora da jurisdição das autoridades brasileiras.
A defesa do ex-presidente confirmou, em nota oficial, que Bolsonaro se hospedou na embaixada da Hungria por dois dias em fevereiro, afirmando ter recebido um convite, "para manter contatos com autoridades do país amigo".
"Quaisquer outras interpretações que extrapolem as informações aqui repassadas se constituem em evidente obra ficcional, sem relação com a realidade dos fatos e são, na prática, mais um rol de fake news", conclui o documento assinado pelos advogados Paulo Amador da Cunha Bueno, Daniel Bettamio Tesser e Fábio Wajngarten.
Bolsonaro é aliado do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, de extrema-direita, com quem já trocou elogios públicos no passado. Ambos se encontraram no fim do ano passado durante a posse do presidente da Argentina, Javier Milei, também de extrema-direita, em Buenos Aires.
Após a revelação da estadia de Bolsonaro na embaixada húngara, o Ministério das Relações Exteriores convocou embaixador da Hungria no Brasil, Miklós Halmai, para prestar esclarecimentos sobre o episódio.
O húngaro teve uma reunião de 20 minutos com a embaixadora Maria Luísa Escorel, secretária de Europa e América do Norte do Itamaraty, de acordo com o MRE. Uma fonte com conhecimento do teor da conversa disse que o embaixador húngaro quase não falou durante o encontro, e tratou a hospedagem de Bolsonaro como uma ocorrência corriqueira. Foi dito a ele, no entanto, que esse não era um fato normal e que não há razões para concessão de eventual asilo ao ex-presidente.
A embaixada da Hungria em Brasília não respondeu de imediato a um pedido de comentário da Reuters.
Na operação da PF em que Bolsonaro teve seu passaporte retido, também foram alvos, além do ex-presidente, aliados próximos, como os ex-ministros da Defesa Paulo Nogueira Batista e Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022; o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno; todos generais da reserva; o ex-ministro da Justiça Anderson Torres; o ex-comandante da Marinha almirante Almir Garnier Santos; e o presidente do PL, partido do ex-presidente, Valdemar Costa Neto.
Na mesma ocasião, também foram presos preventivamente o ex-assessor especial da Presidência no governo Bolsonaro, Filipe Martins, e Marcelo Câmara, coronel do Exército e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.