Ele já controlou a empresa que (na época) era a maior varejista do Brasil - o Grupo Pão de Açúcar (SA:PCAR3) (GPA) -, tornou-se investidor em grandes negócios globais, como na gigante dos alimentos BRF (SA:BRFS3) e nas operações brasileira e mundial do Carrefour (SA:CRFB3), e mantinha uma casa de investimentos apenas para cuidar dos negócios da família. Aos 84 anos, Abilio Diniz voltou mais uma vez a empreender.
Ontem, ele anunciou que a Península Participações está criando uma gestora de investimentos para permitir que o cidadão brasileiro comum - que tenha pelo menos R$ 1 mil para aplicar - possa investir "junto com o Abilio Diniz". É com essa proposta que surge a O3 Capital, que já nasce com R$ 1,5 bilhão em carteira de investimento da própria Península.
Assim, o empresário entra em uma nova seara - o mercado financeiro -, concorrendo não apenas com os grandes brancos brasileiros (como Bradesco (SA:BBDC4), Itaú (SA:ITUB4) e Santander (SA:SANB11)), mas também com gestoras de investimento (como a XP (NASDAQ:XP)) e fintechs (Nubank e Banco Inter (SA:BIDI4), entre muitas outras). Para ele, o aumento da concorrência ampliou as oportunidades no setor, que virou um campo aberto. "O surgimento das fintechs está já arejando o mercado, assim como gestoras independentes como a O3."
Quanto à disposição para iniciar um novo negócio aos 84 anos, Abilio afirma: "Sou jovem ainda, com filhos pequenos para criar". E garante que parar está definitivamente fora de seus planos: "Nunca pensei nisso (aposentadoria) e posso lhe garantir que nunca pensarei".
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista que o empresário concedeu ao Estadão por e-mail:
O que o motiva, aos 84 anos, em seguir empreendendo e criando novos negócios?
Sou jovem ainda, com filhos pequenos para criar, e gosto muito de trabalhar e aprender. Isso leva a gente para frente em todos os sentidos. E o Brasil é um país imenso, cheio de oportunidades. Sempre fui usuário do mercado financeiro e agora mudei de lado. Tem sido uma experiência muito boa, estou aprendendo muito com o time da O3.
Sempre quando alguém abre um negócio, pensa na concorrência e no diferencial. O que as gestoras que já estão no mercado não oferecem que a O3 Capital vai poder oferecer?
Como homem da distribuição, aprendi que o mais importante de tudo para ter diferencial e bom produto é ter foco no consumidor, e neste caso o consumidor é o investidor. Ganhar dinheiro todas as gestoras podem ganhar, mas vamos colocar foco no investidor, entender o que ele deseja, estudar como falar com ele. É preciso ganhar dinheiro, mas é preciso entender esse consumidor/investidor. Outro ponto fundamental é o nosso time. Eu sempre me orgulhei dos times que montei. As pessoas que formam a O3 são muito capazes, muito experientes e têm desejo de aprender, de crescer. Por isso, decidimos abrir o fundo a terceiros. A O3 tem também uma capacidade muito aguda de investir no mercado global, o que hoje está em voga, mas que nós já temos uma longa experiência. E ela tem capacidade de pensar mais no longo prazo porque tem já um capital importante alocado lá.
Como o sr. vê o cenário de desconcentração bancária do País? Isso pode trazer benefícios de longo prazo para o País?
Sem dúvida. A concorrência é fundamental para os clientes e para as empresas, que são obrigadas a oferecer serviços melhores que seus competidores. O surgimento das fintechs está já arejando o mercado, assim como gestoras independentes como a O3.
O sr. acredita que, ao abrir novas possibilidades de investimento para o brasileiro comum, é possível ampliar os horizontes das pessoas, aumentar sua visão de mundo?
Sim. Acho que o investidor brasileiro já está abrindo seus horizontes com os juros negativos (em termos reais, levando em conta a taxa Selic de 3,5% e a inflação projetada, em torno de 5%) que temos agora. E, nesse olhar mais aberto, ele está compreendendo melhor o mercado, a Bolsa, ativos de todo tipo dentro e fora do Brasil. E isso é bom para todo mundo, para as empresas, os investidores, o mercado, que está se sofisticando e crescendo.
O sr. empreende há 60 anos. Em sua trajetória, quais foram os momentos mais difíceis?
Eu tive vários momentos difíceis na vida, mas o importante é aprender a superar as dificuldades e sair vencedor. Sou otimista e vejo os momentos difíceis como aprendizados importantes. Isso é um clichê, mas é uma grande verdade. O momento mais difícil na minha vida foi o meu sequestro, cheguei a pensar que não escaparia. Mas ali redobrei minha fé em Deus, e isso foi um ganho enorme.
O sr. já pensou alguma vez em parar, se aposentar? Se sim, quanto tempo essa resolução durou?
Nunca pensei nisso e posso lhe garantir que nunca pensarei.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.