A quarentena da gestora Advent International está sendo agitada no Brasil. Além de virar sócio do Nubank em uma negociação que envolveu a incorporação da corretora Easynvest pelo banco digital, o grupo usou a onda de aberturas de capital na Bolsa para sair da varejista de materiais de construção Quero-Quero (SA:LJQQ3). Agora, a gigante anuncia um novo fundo de US$ 2 bilhões (ou cerca de R$ 11 bilhões) para investimento na América Latina, com foco principal no Brasil.
Apesar de acreditar que a crise econômica trazida pela epidemia não vá se dissipar em 2021, o sócio sênior da Advent, Patrice Etlin, acredita que já é possível ter uma visão mais clara dos setores com mais potencial de expansão. Hoje, o portfólio da gestora inclui, além do Nubank, a empresa de tecnologia CI&T, o varejista Big (resultado da compra da operação do Walmart no País) e a gigante da educação Yduqs (SA:YDUQ3).
Em entrevista ao Estadão, Etlin afirmou que a tese de investimento do novo fundo não deverá fugir muito dos setores em que a empresa já atua. No entanto, o objetivo é buscar negócios que aliem boa gestão com algum elemento tecnológico. "Tudo o que venha nessa vertente tech nos interessa. Dá para investir em setores que a gente conhece com essa pegada de tecnologia." Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
A Advent está anunciando um fundo de R$ 11 bilhões em plena quarentena. Por quê?
A quarentena foi um período muito ativo. Tocamos vários M&As (fusões e aquisições) capitaneadas por empresas de nosso portfólio e fizemos a negociação da Easynvest com o Nubank, do qual nos tornamos sócios. Além disso, abrimos o capital da Quero-Quero, de materiais de construção, que foi uma saída extraordinária via Bolsa para a gente.
Depois da entrada no Nubank, o componente 'tech' dos investimentos deve aumentar?
Tanto com CI&T quanto com Nubank nos encaixamos dentro de uma estratégia setorial de tecnologia. Existe um fundo global de US$ 2 bilhões voltado a esse tipo de empresa no Advent. A gente tradicionalmente investe em varejo, consumo, educação e saúde - mas tudo o que venha nessa vertente tech nos interessa. Dá para investir em setores que a gente conhece com essa pegada de tecnologia.
Dá para ter confiança em investir em cenário ainda nebuloso?
A gente está sendo muito cauteloso, porque a maioria das empresas está tendo um ano flat (estável) em relação a 2019, enquanto algumas estão até perdendo - embora não seja o caso do nosso portfólio. Estamos também focando em conversas que já iniciamos há algum tempo, com sócios que conhecemos bem, então conseguimos fazer projeções de investimento para 2021 com razoável conforto.
Como está o cenário para o resto da América Latina?
O Brasil deve concentrar dois terços do fundo, pois a gente enxerga países como a Colômbia e o México, exportadores de petróleo, sofrendo muito com a queda do preço do barril. E, ao contrário do que ocorreu no Brasil, esses países não tiveram o auxílio emergencial. O auxílio puxou vendas de celulares, de materiais de construção, de hipermercados. A recuperação do consumo no Brasil foi muito vigorosa. Agora precisa ver se vai ser possível ou não segurar isso (em 2021).
Então, o fundo trabalha com possibilidade de uma economia mais volátil?
Com certeza. Países da América Latina estão criando um rombo fiscal extraordinário. Por isso, os efeitos dessa crise vão além de 2021. Mas a gente vem atuando com esse cenário há tempos. Investimos no Fleury (SA:FLRY3) no meio da recessão do governo Dilma e fechamos o Big em meio à greve dos caminhoneiros. Não é nada novo.
O fundo traz algum sinal de alento econômico do País?
Sim. Traz mais investidores de longo prazo, como fundos soberanos e de pensão. Com ajuda do câmbio, levantamos um fundo 65% superior ao anterior em reais. Não vamos investir em mais empresas, mas aumentar cheques individuais. Não queremos mais do que 13 a 15 empresas (no portfólio).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.