Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - A AES Brasil (BVMF:AESB3) busca manter um equilíbrio entre pagamento de dividendos e investimentos no crescimento da empresa, que fez uma ampla transformação de seu parque gerador renovável nos últimos anos e deve ver um incremento relevante de Ebitda com a entrada em operação de novos projetos, disseram nesta quinta-feira executivos da companhia.
A estratégia de crescimento da AES passa principalmente por aquisições de ativos operacionais e desenvolvimento de empreendimentos próprios de geração, com foco nas fontes eólica e solar.
No curto prazo, porém, a elétrica enxerga um mercado mais morno para a negociação de novos contratos para seus projetos "greenfield", o que desacelera o crescimento do portfólio nessa frente.
Segundo o diretor de Tesouraria e Relações com Investidores, José Simão, os baixos preços da energia no curto prazo fazem com que os consumidores do mercado livre segurem a contratação de energia para o longo prazo, em negócios que viabilizam novos parques de geração. Ao mesmo tempo, as pressões sobre os valores de investimentos (Capex), principalmente por questões com fornecedores, também dificultam as negociações.
"Em algum momento essas duas curvas vão ter fechar para os negócios continuarem a sair. Esse ano não aconteceu, ano que vem não me parece tão trivial", disse Simão, em conversa com jornalistas após reunião com analistas e investidores nesta quinta-feira.
Atualmente, a AES Brasil tem dois projetos eólicos em construção e com energia contratada sobretudo junto a grandes clientes: o complexo Tucano, na Bahia, com 322 MW de capacidade; e Cajuína, no Rio Grande do Norte, com 695 MW. Quando estiverem totalmente operacionais, em 2024, esses empreendimentos devem adicionar 600 milhões de reais ao Ebitda da companhia, disse o executivo.
Enquanto o mercado para novos contratos de longo prazo desacelerava, a elétrica buscou crescer seu portfólio com aquisições. Neste ano, fechou a compra de três usinas eólicas da Cubico por cerca de 2 bilhões de reais.
O foco para aquisições está em ativos de 200 a 300 MW, com potencial de "turnaround" operacional ou financeiro, disse a CEO da elétrica, Clarissa Sadock.
Os executivos destacaram que existem boas oportunidades no mercado que podem trazer retornos adequados, com TIR de 15% a 17%.
Nesse contexto, a elétrica pretende continuar pagando dividendos e equilibrando isso com as oportunidades de crescimento que surgirem no mercado, afirmou Francisco Morandi, vice-presidente de estratégia corporativa da americana AES Corp (NYSE:AES), controladora da AES Brasil.
"A história de crescimento no Brasil é muito relevante quando construímos esse portfólio de retornos... É uma combinação de retorno, o retorno que vem do Brasil consegue puxar a média", afirmou Morandi.
Atualmente, a AES Corp, que possui grande parte de suas operações nos Estados Unidos, obtém retornos mais elevados de projetos de geração renovável no Brasil do que em seu país de origem.
NOVOS PRODUTOS
A AES Brasil também está olhando para novas tecnologias, como o hidrogênio verde, já tendo memorandos assinados com o Porto de Pecém para uma futura planta do combustível renovável.
A dificuldade, porém, é garantir um "offtaker" para o hidrogênio, cujo principal oportunidade para as empresas brasileiras está na exportação, explicou Sadock. Uma possibilidade são os leilões que vêm sendo organizados por países como Alemanha e Japão para a compra do combustível.
"Estamos trabalhando muito fortemente, temos o time da AES internacional.. focada em puxar essa pauta (do hidrogênio verde). A vantagem é já ter um projeto que vai implementado nos EUA, então temos um processo produtivo para aprender com eles", disse a CEO.
Nesta quinta-feira, a AES Corp e a Air Products anunciaram planos de investir aproximadamente 4 bilhões de dólares para construir e operar uma instalação de produção de hidrogênio verde em Wilbarger County, no Texas. O projeto inclui aproximadamente 1,4 GW de geração de energia eólica e solar, juntamente com uma capacidade de eletrolisador de mais de 200 toneladas métricas por dia de hidrogênio verde.
(Por Letícia Fucuchima)